sexta-feira, 12 de junho de 2020

É uma merda, mas eu ainda te amo

É verdade. Eu não posso mentir pra mim mesma. É uma merda dizer isso, mas eu ainda te amo. Muito.

Acho que nunca amei dessa forma antes. Aceitando ao máximo os teus defeitos. Lidando com as minhas e as tuas limitações. Lutando tanto pelo bem dos dois. Trabalhando tanto para crescermos juntos. Sendo tão compreensiva. Reduzindo o meu nível de exigência porque a gente só dá o que tem. Será que eu pequei aí, por que carreguei muito isso tudo sozinha? Talvez.

Sei que dei o melhor de mim e não me arrependo um dia por nada disso. Por ser eu mesma na maioria das vezes e fazer o que acreditava que seria sempre o melhor pro nosso futuro. Mas ele só existia na minha cabeça, no meu coração. Foi aí que errei. Transformei sua empolgação em ilusão. E acabei aprendendo que antes de qualquer coisa, é preciso ter reciprocidade e afinidade nas atitudes e nas aspirações, além dos sentimentos. 

Hoje vai ser mais um dia difícil deste ano. Mesmo sabendo que você não gostava de celebrar datas comemorativas e não entender o motivo, você, como tantas outras coisas, nunca me disse, eu tinha tua presença, teu abraço e teu sorriso. O que pra mim era muita coisa, pra você nunca significou nada.

Não posso mudar isso.

Agora seremos sempre lembrança.

E desapontamento sobre o que não vamos nunca ser.

Feliz Dia dos Namorados.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Eu já celebrei um casamento. E você?


Eu já "celebrei" um casamento. Você já? Pois eu "celebrei" o casamento de Virgínia e Patrick. Eu já tinha sido madrinha três vezes, duas de pessoas que considero irmãs que a vida me deu. Morro de chorar quando vou pra um casamento e acho que é um negócio tão sério que fico arretada com o que vejo acontecendo por aí...

Conheci Virgínia creio que há uns 8 anos, durante a organização da festa de ex-alunos do colégio onde estudamos. Construímos uma amizade muito massa, não daquelas mega íntimas, mas das cheia de trocas positivas, de incentivo, admiração mútua, mesmo tendo uma década, ou mais, de diferença de idade.

Se não bastasse participar dessa despedida linda que ela organizou no dia 4/10 pra reunir os amigos e a família depois de uma temporada de férias no Brasil (ela e o marido moram na Suíça e casaram lá, há cerca de 2 anos), eles inventaram de simular o casamento que todos ali só haviam conferido por fotos. Eu já estava me organizando pra ir embora, quando Patríck anunciou essa brincadeira e me ofereci para ser a celebrante.

Catei no Google um texto de cerimônia de matrimônio e fui improvisando em cima. Logo eu, que morro de vergonha de falar em público, ainda consegui tirar onda com toda a situação que foi linda, emocionante e divertida. Resultado: um dos momentos mais massa que presenciei de celebração e confraternização em torno de um amor que poderia não dar certo por N motivos. Mas está dando e vai continuar assim.

Eu, do alto dos meus singelos 40, arrisco-me a elencar algumas razões que me levam a crer que vai sim:

1. Eles se amam (óbvio);
2. Eles se comprometeram um com o outro em fazer dar certo;
3. Eles se arriscaram sem medo e decidiram fazer dar certo.
4. Eles querem que dê certo e abrem mão, muitas vezes da individualidade, para fazer dar certo.
5. Eles dividem e se apoiam em tudo, refletem segurança um para o outro;
6. Há um mega diálogo aberto e eles são os melhores amigos que poderiam ter/ser;
7. Eles deixaram o passado no passado. O que importa é o presente e o futuro deles juntos;
8. Etc. etc. etc.

Ninguém deixa a família e vai morar num lugar com uma cultura totalmente diferente da sua, língua etc. se não tiver algumas certezas e seguranças. Ninguém abraça uma pessoa com o mesmo perfil se a sintonia não for a mesma.

Mas Bruna, tu não era contra casamento? Sério que todo mundo acha isso?! Eu fico abismada com alguns julgamentos que fazem sobre o que eu penso sobre certas coisas.

Eu já "casei" também. Morei junto por quase um ano, mas não deu certo. Foi um casamento que começou fadado ao insucesso porque só tinha o item um dos dois lados e os demais de um ou do outro lado. Foi uma experiência terrível, envolvendo traição por parte dele, anulação por parte da minha, muita expectativa frustrada no final. Mas foi uma escola que eu gostaria de não ter precisado passar e não desejo que ninguém passe. Eu vivi o céu e o inferno e optei por não continuar mesmo tendo a chance porque eu sabia que ia dar em merda e não na família que eu gostaria de ter.

O fato de não ter conseguido alcançar o que queria não fez com que eu desacreditasse na união de pessoas que se amam, na opção que fazem por viver juntas. De forma alguma. Tanto que meu desejo não mudou. Mas me fez perceber o quanto a fantasia que gira em torno do casamento é fatal para que ele aconteça e perdure. Não basta amar pra dar certo. O amor é importante. Mas não se basta.

A vida real de um relacionamento é bem mais punk que as comédias românticas que assistimos, que os livros de Jane Austen (sou fã) que lemos e que as canções de amor que ouvimos.

Facilita quando os dois querem seguir juntos na mesma direção, mas nem por isso o caminho a ser trilhado deixa de ser difícil. Já se irritou com o comportamento repetitivo do seu amor que tanto você detesta? Já se pegou pensando ter que conviver com isso no dia a dia? Já pensou viver com uma pessoa que teve uma educação totalmente diferente da sua e isso reflete totalmente na rotina e nas obrigações que dividir um espaço com alguém? E os defeitos? Já se apaixonou e sabe entender os defeitos delX? Já se perguntou como vai administrar tudo isso, contas, estresse que vem pra casa depois do trabalho, problemas de família, amigos que vocês não curtem, etc? Cansaço e vontade muitas vezes de ficar sozinho? Vamos falar mil horas aqui de coisas que rolam num casamento que você só descobre quando passar ou ouvir as histórias de quem está num ou já passou por um.

Muitos podem discordar de mim, claro. É natural. Mas acho que a gente precisa sim abrir mão um pouco de pensar apenas no próprio umbigo pra ter uma visão do que é bom pros dois. Se não houver isso, não há futuro. Não há certeza de nada, mas se não houver cessão, diálogo, respeito, um se colocar no lugar do outro sempre, não há união. E não há relação que perdure se você não zelar por ela todo dia. Se não houver um plano em que os dois estejam juntos, construam juntos, conquistem juntos, vivam juntos. Se não lembrar do quanto o que você fizer ou deixar de fazer pode afetar quem você ama e a relação.

E isso eu peço a você Virgínia e Patrick, do alto da minha singela ignorância sobre tudo que diz respeito ao casamento e ao relacionamento de vocês: não deixem de se preocupar com o outro, não deixem de pensar juntos o que é melhor para os dois, individualmente e principalmente como casal. Reguem esse cacto todos os dias. Sejam pacientes. Cuidem das suas expectativas. Não liguem o foda-se se a intenção de vocês é viver bem e juntos até envelhecerem. Se cuidem.

Muito amor e cumplicidade pra vcs sempre.


Para finalizar, chamo a Martha Medeiros que escreve muito, mas muito sobre as coisas da vida e dos relacionamentos:

Martha Medeiros: Para que serve uma relação? 

Para que serve uma relação?
Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa,
À vontade para concordar com ela e discordar dela.
Para ter sexo sem "não-me-toques" ou para cair no sono logo após o jantar.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas.
Para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete.
Para ter alguém com quem viajar para um país distante.

Para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre,
Estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações

Para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas,
E deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto,
E cobrir as dores um do outro num momento de melancolia,
E cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um perdoar as fraquezas do outro,
Para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

sábado, 24 de março de 2018

Insegurança é um bicho que corroi...



E quando você está vivendo o relacionamento mais feliz que você já teve na vida, o com mais perspectivas, o mais harmonioso, o mais mais, vem um sentimento incontrolável e pei!, te coloca num momento de instabilidade em poucos minutos. A tal da insegurança é um mal que pode causar até mesmo a imobilidade, o que não é o caso. Mas faz um estrago medonho inclusive com o seu racional, com o que você acredita e até pratica no dia a dia. Ela chega de mansinho e acaba com o seu deboísmo.

Mesmo sendo muito bem resolvida no que eu quero/acredito e, principalmente, com relação ao que não quero nem pra mim e nem para os outros, essa bendita bateu. E foi uma batida forte, tão forte, que eu não consegui lidar totalmente.

Segurei a onda até onde foi possível... Passei o dia inquieta, angustiada, tensa... Falei o que tava se passando para duas amigas, ouvi delas que não estava sendo insegura de fato (não, meninas, eu estava, estou mesmo! Amo vocês por terem tentado acalmar meu coração...) - o cenário também era, no mínimo, esquisito para ambas - , mas humana, apesar dos medos que eu estava sentindo não fazerem sentido algum, não terem fundamento...

Foi mal. Não deu pra segurar e disfarçar como eu queria. Eu não queria expor nada. Não queria parecer egoísta, infantil ou possessiva desde o momento que eu soube o que ia acontecer. Eu sou possessiva, fato, mas eu tenho um histórico que explica a insegurança - não justifica, embora ninguém tenha obrigação de lidar com ele/ela, mas putz... Não tinha fundamento, não tem, mas rolou um surto sim.

A insegurança ficou aparente com duas frases, além de todas as lágrimas de medo que rolaram escondido nesses dois dias: 1. Não esqueça da gente não. 2. Não fique repetindo que "essa viagem só estaria completa se você estivesse comigo".

É... Eu pedi isso. Pedi porque tava dolorido demais saber de tantas coisas... A principal é que tudo que estava por vir, toda emoção, toda experiência não seria/não estava sendo dividida comigo e sim com uma pessoa estranha pra mim, embora não fosse pra ele. Pelo contrário... Pedi porque não deu pra me sacrificar para estar lá, para ir junto. Pedi porque a constatação da minha ausência doia mais do que se ela não fosse mencionada (eu deveria estar feliz por ele dizer, mas não estava!). Pedi porque não sei se poderei fazer isso com ele algum dia. Pedi porque, mesmo que consiga, não vai ser a primeira vez para os dois. Era meu sonho também! Era um dos nossos 5 minutos! E eu queria ter dividido com ele. Pedi porque, além de tudo, também estou com ciúmes. Pronto, admiti, disse, registrei. Bateu a porra do ciúme sem fundamento. Sim, seria diferente se você estivesse sozinho ou com um amigo (não com uma amiga). Sim, repito: é sem fundamento.

Eu tinha combinado comigo mesma que não ia falar nada. Que não ia demonstrar nada... E minha estratégia era ficar mais distante, não comentar nada,  não perguntar nada, seguir racionalmente e ser uma "boa namorada", ser indiferente, naquele perfil "não tô nem ligando pro que você está fazendo mesmo que não seja comigo". No final, não deu certo. E acho que não deu certo porque não agi naturalmente. Eu tentei mascarar minha verdade. Errei.

Hoje eu tô aqui arrependida de não ter conversado a respeito e, ainda mais, por ter soltado essas duas pérolas de insegurança e de ter sido indelicada, coisa que poderia desencadear uma crise nessa história massa que tá rolando. E "por nada", "leitor/leitora".

Eu gosto tanto dele que eu desejo e estou disposta a contribuir para que seja feliz em cada realização que possa ter, comigo ou não. Eu sei que a realização desse sonho foi e tem sido cara, que é uma conquista particular. Eu não sei se tenho a noção certa do que representa, mas eu tenho de alguma forma. Por isso, peço desculpas pela minha insegurança. Eu reconheci que ela existe e aflorou esse dias. Ela não é um problema seu. É meu. Eu tenho plena consciência disso, mas não consegui segurar. e transferir pra esse momento, pra nossa relação. Desculpa!

Hoje, eu queria poder ter olhado pro lado (onde você sempre está desde que a gente se conheceu) e ver teus olhos e tua boca sorrindo com o nascer e o pôr do sol na praia mais linda que a gente tem aqui... Segurar tua mão enquanto a gente encosta as cabeças uma na outra, tirar tua foto, presenciar teu encantamento e rir de abestalhamento por tudo que estaria acontecendo.

Foto meramente ilustrativa do meu desejo...

domingo, 24 de dezembro de 2017

"Você sabe que nada vai mudar, não sabe"?


Há 8 anos, aproximadamente, eu ouvi essa pergunta depois de ter passado algumas das horas mais felizes de minha vida. Sabe quando alguém fala algo que é a pura verdade, mas na hora errada? Foi assim que depois de me sentir feliz ao extremo, senti-me um lixo ao extremo.

Quando você sabe que não está agindo certo, a realidade bate na sua porta muito mais rapidamente. Depois de 11 anos de espera, eu estava ali com quem eu achava que finalmente poderia ter um relacionamento em que eu seria feliz na maior parte do tempo. Durante tanto tempo aquilo tinha ficado só no plano das ideias, dos sentimentos que iam e viam, das promessas impossíveis de serem cumpridas por conta dos relacionamentos de ambos os lados.

Eu me magoei e, anos depois, soube que a verdade tinha vindo à tona do lado de lá e tinha magoado muito mais gente. Parte do que eu gostaria de ter na minha vida tinha sido ameaçado na vida de outras pessoas simplesmente porque eu havia ligado o foda-se uma vez na vida. Mas não tinha sido inconsequente. E já fazia tanto tempo que aquelas horas tinham ocorrido. Tinham ficado na minha memória como algo que nunca faria parte novamente da minha história. Nunca.

Levei muito tempo para me perdoar. Mas como diz Alanis, a vida é irônica e dois raios podem cair no mesmo lugar, duas vezes.

A mesma internet promoveu um novo encontro ao acaso, talvez até com uma intensidade maior. E eu liguei o foda-se novamente num espaço de tempo muito menor: semanas. O raciocínio dessa vez mudou. Eu estava solteira e não tinha assumido compromisso com ninguém, desta forma, não estava cometendo erro algum, traindo a confiança de ninguém, nem sendo desleal. Ledo engano. Sim, estava indo contra os meus valores e por essa razão também me condenava. O turbilhão de sentimentos que vieram junto com essa virada de chave ainda vão e vem. A frase marcante mudou para "eu nunca menti pra você, sempre fui sincero da minha situação. Quem sabe daqui a um tempo. Tudo muda. Já mudou muito. Pode mudar novamente".

Eu não sou passageira do meu destino. Eu tento fazer o que eu quero acontecer. Juntando essas palavras com outras tantas escritas/ditas e falta de atitude, fica claro o que vai e o que não vai acontecer. Não quero ser válvula de escape de ninguém. É muito cômodo ter uma vida real e uma experiência virtual em que você deposita suas frustrações, onde realiza o que a realidade não oferece mais, sabe-se lá por quais razões. É preciso, por amor e respeito próprio, descortinar mais esse episódio platônico. Não cabe mais esperar 11 anos para ter uma "decisão". Já sei qual é a óbvia, a mais sensata. Assim como já sei qual é o fim da história e ela não tem um final feliz pra mim. Talvez pra ninguém.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Seu nome

A conexão mais forte que se pode estabelecer entre os seres humanos é a mental. Com ela vem tudo o mais. Não há tempo, distância ou circunstância. Sem ela nada importa, nada existe. Certo e errado se tornam questões pequenas e a existência faz sentido. E seu nome está em tudo...

sábado, 21 de outubro de 2017

Letters from Brazil 1 - Por que eu preciso voltar



Um pouquinho do River Lee

Hoje faz exatamente três semanas que voltei pra casa. Confesso que parece mais. A rotina já me absorveu. Trabalho-casa-trabalho... Ainda não deu para voltar a praticar alguma atividade física (estou tentando manter o peso) ou dar continuidade às aulas de inglês (quero continuar no objetivo de fazer a certificação). A prioridade é pagar as contas e cuidar de Fiona. Mas, claro, que eu sinto muita falta de Cork, minha Nárnia.

Eu já sabia que ia me sentir assim. Quando eu penso nisso, choro. E não é porque eu não goste daqui ou da vida que levo. É porque é muito bom poder viver num lugar em que você pode andar sem se preocupar se alguém vai te atacar. A violência lá acontece em outro nível. Pra mim esse é o grande problema de viver aqui atualmente. Fora a questão do ritmo da cidade. Cork tem tudo que uma cidade grande tem, mas num ritmo menos intenso. Ela é pequena e, dependendo do lugar, dá pra fazer tudo a pé. E é isso que eu quero para a minha vida.

Pela janela do meu quarto, os telhados que eu via e depois o horizonte...

Ontem eu precisei sair do trabalho mais cedo e o trajeto até a parada de ônibus foi um terror. Da parada pra casa, outro estresse. Eu desejo essa vivência de tranquilidade para todo mundo. Mesmo os que achem que isso é pura frescura minha.

Mas não é simplesmente por isso que eu gostaria de voltar. Também não é por conta do irlandês que conheci e que não manda notícia alguma (e que não vou fazer outro contato, claro). É porque, mesmo passando oito semanas, eu não fiz um monte de coisas que gostaria/poderia de ter feito. Se você me perguntar o motivo eu vou te dizer que por questão de orçamento. Tudo tinha que ser priorizado...

Quer saber o que faltou fazer? Dê uma lida na lista abaixo:

1. Assistir partidas de hurling ou gaelic football, dois esportes irlandeses típicos, e escolher times para torcer.
2. Andar de bicicleta pelas ruas de Cork ou de qualquer cidade irlandesa.
3. Ir ao Black Rock Castle.
4. Ir a Galway e outros lugares no leste e noroeste da Irlanda.
5. Frequentar outros pubs e boates, como a Vodoo...
6. Comer as comidas típicas da Irlanda.
7. Experimentar mais cervejas e cidras.
8. Viver o inverno do hemisfério Norte, quem sabe ver neve?
9. Assistir a espetáculo de dança e música típicas irlandesas.

São coisas bestas/simples, mas que fazem parte de viver o lugar, de sentir-se parte dele. Cork faz parte de mim agora e para sempre. Sério, preciso voltar...

Casinhas coloridas da North Street

Letters from Cork 14 - O intercâmbio em si - Parte 2 (expectativa x realidade)



Trilha sonora: Spotify/Cafezinho


Aulas não eram diferentes das escolas daqui

Eu não lembro qual foi a primeira vez que eu tive vontade de fazer intercâmbio, mas foi, provavelmente, por volta dos 15 anos. Na minha época, as meninas escolhiam entre ganhar uma festa ou fazer uma viagem para os Estados Unidos. Eu ganhei um bolo solado e um assustado com pouquíssimos amigos.

Pelo que vocês já sabem, esse sonho me acompanhou a vida toda. Há cerca de 10 anos ele voltou com mais força e, desde então, vinha cultivando. A oportunidade de concretizar surgiu algumas vezes, mas eu sempre priorizei outras coisas, investia a grana extra para pagar outras coisas, uma manutenção do carro, na casa de mainha, trocar a cama, o computador... Mas dessa vez eu bati o pé e investi a maior parte da grana nesses dois meses fora. A estratégia foi meio drástica: comprometi a grana desde o início. Não tinha outra forma porque acabaram realmente surgindo outras demandas que se eu tivesse o montante teria destinado e acabado novamente com a possibilidade de concretizar. Talvez fosse a última...

Vou relatar aqui um pouco do que eu esperava que acontecesse e o que no fim aconteceu, onde errei e onde eu acertei.

Eu nunca havia viajado pra fora (mal conheço o Brasil), eu resolvi buscar apoio de uma agência de intercâmbio. Pesquisei por mais de um ano algumas e a mais em conta x serviço e atendimento legal foi a Dreams Intercâmbios. Recebi (quase) toda a orientação necessária lá. Fui sempre bem atendida e sempre tiraram todas as dúvidas que surgiam. E foram muitas. Durante meu período lá, eu tinha um grupo do Whatsapp com eles para resolver qualquer problema. E funcionou bem. Recomendo ter uma agência por trás porque, em caso de bronca, eles podem ser acionados. Eu não tive problema com acomodação ou com turma/professor. Mas poderia ter tido, como vi algumas pessoas tendo por lá.

Quando eu digo que recebi quase toda orientação, é porque eu acho que poderiam ter me explicado um pouco melhor sobre prós e contras do escolha do horário das aulas. Eu recomendo sempre que as pessoas que lerem esse post e também tiverem a intenção de fazer intercâmbio perguntem mais a respeito e, de preferência, coloquem as aulas pela manhã. Eu errei. Coloquei à tarde. Pela manhã você ganha o resto do dia para fazer o que quiser, passear, estudar, trabalhar e colocar o aprendizado em prática, vivenciar a cultura e a língua.

A Cork English Academy (CEA) onde estudei oferecia atividades extras à tarde, o que era muita desvantagem para quem estudava no horário e não tinha a oportunidade de participar. Quando escolhi o turno da tarde, pensei que as atividades também aconteciam de manhã. Esse foi o ponto que a Dreams pecou. E é o pecado cometido pela CEA. Quando eu comecei a trabalhar de lá em setembro, perdi o contato com as pessoas. Conselho de quem errou: escolha o turno da manhã.

Eu também posso comparar o ensino na CEA e nas escolas que passei aqui no Recife. O diferente é realmente aprender com um nativo. A metodologia é a mesma: quadro, livro/cópia, exercícios (nesse caso foi pouco, mesmo para um curso intensivo),  muito conteúdo novo e muito vocabulário. Os professores que tive eram muito bons. Sempre disponíveis para ir além do que estavam expondo, tirando dúvidas de vocabulário, gramática e, muitas vezes, de coisas práticas sobre a Irlanda. De como poderíamos fazer isso ou aquilo. Por outro lado, o foco realmente era só o speaking, falar. O writing (escrita) foi uma negação. Esse era um dos meus principais objetivos e não foi cumprido. Um detalhe extra: a maioria dos alunos tem entre 19 e 25 anos. Pessoas com mais de 30 são raras, mas existem. E sofrem certo preconceito por conta da idade.

Outra coisa que foi totalmente diferente foi a recepção das pessoas da Irlanda. Reza a lenda que todo mundo é mega receptivo, que são bons de relacionamento. Eu sei que eu tenho dificuldade de fazer amizades, mas eles não são tão amigáveis assim. Todos os professores e os integrantes do staff da escola eram gente boa, gentis, mas até certo nível. Eu só conheci um irlandês de fato (vocês podem ver no post "Paixão" irlandesa), mas os demais... O professor com quem troquei o Facebook nem responde as poucas mensagens que enviei. Agora mesmo, com a história do furacão Ophelia, mandei mensagem perguntando como estavam as coisas por lá... Não respndeu nem por educação! Enfim, lenda.

Eu passei três semanas praticamente evitando brasileiros. Eu me rendi a eles e aos estrangeiros porque é com eles que você têm que andar, se relacionar e praticar a língua. Segui muito o exemplo do Alejandro, meu flatmate, e comecei a andar com os amigos dele. Era com esse pessoal que rolavam as saídas coletivas aos pubs.

Na Irlanda, brasileiro é boia. Então acho que isso também dificulta tudo. Eu já falei disso em outro post... Somos muito mal vistos pelo comportamento descompromissado, deseducado e interesseiro. Então, porque qualquer irlandês faria amizade com algum de nós? Bem, isso acontece, claro, mas o que eu mais vi foram brasileiros e estrangeiros compartilhando suas dificuldades e alegrias por lá.

O frigobar não tinha espaço pra nada... Eu tirei todo o gelo e limpei o danado

Pensei que fosse ser mega difícil me adaptar ao apartamento e à convivência com os outros três moradores/estudantes, mas nem foi. A primeira e segunda semanas convivendo com três homens foi difícil, mas quando surgiu um problema eu chamei pra conversar e a coisa melhorou. Eu encontrava panelas sujas no armário... Meio nojento... Não dava, né? No mais, eu resolvi que se eu queria algo do meu jeito eu ia lá e fazia. Queria o balcão da pia limpo, se tivesse sujo quando eu fosse arrumar, eu limpava. Se eu queria que a louça seca fosse guardada no armário e as pessoas não faziam, quando eu fosse guardar a minha, às vezes guardava o resto. E foi assim até o fim.

Tirar o lixo era a mesma coisa... Teve uma hora que eu quase me arretei porque os dois últimos moradores que chegaram tavam cagando com o saco esborrando... Eu tirei quase três vezes seguidas... Nos últimos dias eu liguei o foda-se. Eles que tirassem. Eu já estava indo embora...

E por fim, preciso comentar sobre tempo. Oito semanas passaram voando. Dois meses não foi nada. Eu consegui trocar de turma, mas isso foi porque eu já havia estudado inglês antes e realmente me dediquei. Fazia todo o dever de casa, buscava coisas extras quando sentia dificuldade, li três livros enquanto estava lá... Mesmo assim, não senti tanta evolução assim. Não tive tempo de colocar em prática lá o que estava aprendendo. A experiência foi muito rica, mas se eu pudesse voltar no tempo, teria tentado ficar mais um mês, pelo menos. Tenho certeza de que ainda acharia pouco, mas, pelo menos, teria mais tempo além da fase da adaptação (primeiras 2, 3 semanas).




Minhas recomendações gerais, no fim das contas, são:

1. Se não tiver segurança de organizar tudo sozinho lance mão de uma agência. Sai mais caro, sai, mas compra o remédio para qualquer dor de cabeça que você tiver

2. Espere menos do que eu para partir para fazer amizade com qualquer pessoa. Tem muita coisa em jogo, principalmente a prática da língua. Sim, tô dizendo para você se aproximar das pessoas por interesse, o que não quer dizer que seja de qualquer pessoa e sim de pessoas que você ache que pode ter uma amizade legal. O ponto de partida é a prática da língua.

3. Se só tiver grana para passar um mês, beleza, passe. Mas vá consciente de que não será nada. Dois meses também não. Talvez, não sei, de três meses em diante a coisa flua melhor.

4. Se for passar pouco tempo, veja uma forma de não trabalhar. Pelo menos não todo dia e num horário fixo. Isso me deixou muito amarrada na segunda parte do intercâmbio, até porque eu escolhi o horário errado para fazer isso. Se você estiver estudando de manhã e puder trabalhar à tarde ou à noite, de forma flexível, vai ser melhor.

Minha ideia, depois disso tudo, é retomar o curso aqui para revisar o que foi visto lá, aperfeiçoar o que percebi que sou fraca e que impactou negativamente nessa experiência, e buscar o writing. Após isso, a certificação da fluência.

Sherlock foi o primeiro livro que li por lá

Depois a história de três mulheres que desafiaram seus limites para realizar um grande sonho

Depois um clássico da ficção científica. Descobri depois que voltei que essa é a
história que inspirou Blade Runner