sábado, 21 de outubro de 2017

Letters from Cork 14 - O intercâmbio em si - Parte 2 (expectativa x realidade)



Trilha sonora: Spotify/Cafezinho


Aulas não eram diferentes das escolas daqui

Eu não lembro qual foi a primeira vez que eu tive vontade de fazer intercâmbio, mas foi, provavelmente, por volta dos 15 anos. Na minha época, as meninas escolhiam entre ganhar uma festa ou fazer uma viagem para os Estados Unidos. Eu ganhei um bolo solado e um assustado com pouquíssimos amigos.

Pelo que vocês já sabem, esse sonho me acompanhou a vida toda. Há cerca de 10 anos ele voltou com mais força e, desde então, vinha cultivando. A oportunidade de concretizar surgiu algumas vezes, mas eu sempre priorizei outras coisas, investia a grana extra para pagar outras coisas, uma manutenção do carro, na casa de mainha, trocar a cama, o computador... Mas dessa vez eu bati o pé e investi a maior parte da grana nesses dois meses fora. A estratégia foi meio drástica: comprometi a grana desde o início. Não tinha outra forma porque acabaram realmente surgindo outras demandas que se eu tivesse o montante teria destinado e acabado novamente com a possibilidade de concretizar. Talvez fosse a última...

Vou relatar aqui um pouco do que eu esperava que acontecesse e o que no fim aconteceu, onde errei e onde eu acertei.

Eu nunca havia viajado pra fora (mal conheço o Brasil), eu resolvi buscar apoio de uma agência de intercâmbio. Pesquisei por mais de um ano algumas e a mais em conta x serviço e atendimento legal foi a Dreams Intercâmbios. Recebi (quase) toda a orientação necessária lá. Fui sempre bem atendida e sempre tiraram todas as dúvidas que surgiam. E foram muitas. Durante meu período lá, eu tinha um grupo do Whatsapp com eles para resolver qualquer problema. E funcionou bem. Recomendo ter uma agência por trás porque, em caso de bronca, eles podem ser acionados. Eu não tive problema com acomodação ou com turma/professor. Mas poderia ter tido, como vi algumas pessoas tendo por lá.

Quando eu digo que recebi quase toda orientação, é porque eu acho que poderiam ter me explicado um pouco melhor sobre prós e contras do escolha do horário das aulas. Eu recomendo sempre que as pessoas que lerem esse post e também tiverem a intenção de fazer intercâmbio perguntem mais a respeito e, de preferência, coloquem as aulas pela manhã. Eu errei. Coloquei à tarde. Pela manhã você ganha o resto do dia para fazer o que quiser, passear, estudar, trabalhar e colocar o aprendizado em prática, vivenciar a cultura e a língua.

A Cork English Academy (CEA) onde estudei oferecia atividades extras à tarde, o que era muita desvantagem para quem estudava no horário e não tinha a oportunidade de participar. Quando escolhi o turno da tarde, pensei que as atividades também aconteciam de manhã. Esse foi o ponto que a Dreams pecou. E é o pecado cometido pela CEA. Quando eu comecei a trabalhar de lá em setembro, perdi o contato com as pessoas. Conselho de quem errou: escolha o turno da manhã.

Eu também posso comparar o ensino na CEA e nas escolas que passei aqui no Recife. O diferente é realmente aprender com um nativo. A metodologia é a mesma: quadro, livro/cópia, exercícios (nesse caso foi pouco, mesmo para um curso intensivo),  muito conteúdo novo e muito vocabulário. Os professores que tive eram muito bons. Sempre disponíveis para ir além do que estavam expondo, tirando dúvidas de vocabulário, gramática e, muitas vezes, de coisas práticas sobre a Irlanda. De como poderíamos fazer isso ou aquilo. Por outro lado, o foco realmente era só o speaking, falar. O writing (escrita) foi uma negação. Esse era um dos meus principais objetivos e não foi cumprido. Um detalhe extra: a maioria dos alunos tem entre 19 e 25 anos. Pessoas com mais de 30 são raras, mas existem. E sofrem certo preconceito por conta da idade.

Outra coisa que foi totalmente diferente foi a recepção das pessoas da Irlanda. Reza a lenda que todo mundo é mega receptivo, que são bons de relacionamento. Eu sei que eu tenho dificuldade de fazer amizades, mas eles não são tão amigáveis assim. Todos os professores e os integrantes do staff da escola eram gente boa, gentis, mas até certo nível. Eu só conheci um irlandês de fato (vocês podem ver no post "Paixão" irlandesa), mas os demais... O professor com quem troquei o Facebook nem responde as poucas mensagens que enviei. Agora mesmo, com a história do furacão Ophelia, mandei mensagem perguntando como estavam as coisas por lá... Não respndeu nem por educação! Enfim, lenda.

Eu passei três semanas praticamente evitando brasileiros. Eu me rendi a eles e aos estrangeiros porque é com eles que você têm que andar, se relacionar e praticar a língua. Segui muito o exemplo do Alejandro, meu flatmate, e comecei a andar com os amigos dele. Era com esse pessoal que rolavam as saídas coletivas aos pubs.

Na Irlanda, brasileiro é boia. Então acho que isso também dificulta tudo. Eu já falei disso em outro post... Somos muito mal vistos pelo comportamento descompromissado, deseducado e interesseiro. Então, porque qualquer irlandês faria amizade com algum de nós? Bem, isso acontece, claro, mas o que eu mais vi foram brasileiros e estrangeiros compartilhando suas dificuldades e alegrias por lá.

O frigobar não tinha espaço pra nada... Eu tirei todo o gelo e limpei o danado

Pensei que fosse ser mega difícil me adaptar ao apartamento e à convivência com os outros três moradores/estudantes, mas nem foi. A primeira e segunda semanas convivendo com três homens foi difícil, mas quando surgiu um problema eu chamei pra conversar e a coisa melhorou. Eu encontrava panelas sujas no armário... Meio nojento... Não dava, né? No mais, eu resolvi que se eu queria algo do meu jeito eu ia lá e fazia. Queria o balcão da pia limpo, se tivesse sujo quando eu fosse arrumar, eu limpava. Se eu queria que a louça seca fosse guardada no armário e as pessoas não faziam, quando eu fosse guardar a minha, às vezes guardava o resto. E foi assim até o fim.

Tirar o lixo era a mesma coisa... Teve uma hora que eu quase me arretei porque os dois últimos moradores que chegaram tavam cagando com o saco esborrando... Eu tirei quase três vezes seguidas... Nos últimos dias eu liguei o foda-se. Eles que tirassem. Eu já estava indo embora...

E por fim, preciso comentar sobre tempo. Oito semanas passaram voando. Dois meses não foi nada. Eu consegui trocar de turma, mas isso foi porque eu já havia estudado inglês antes e realmente me dediquei. Fazia todo o dever de casa, buscava coisas extras quando sentia dificuldade, li três livros enquanto estava lá... Mesmo assim, não senti tanta evolução assim. Não tive tempo de colocar em prática lá o que estava aprendendo. A experiência foi muito rica, mas se eu pudesse voltar no tempo, teria tentado ficar mais um mês, pelo menos. Tenho certeza de que ainda acharia pouco, mas, pelo menos, teria mais tempo além da fase da adaptação (primeiras 2, 3 semanas).




Minhas recomendações gerais, no fim das contas, são:

1. Se não tiver segurança de organizar tudo sozinho lance mão de uma agência. Sai mais caro, sai, mas compra o remédio para qualquer dor de cabeça que você tiver

2. Espere menos do que eu para partir para fazer amizade com qualquer pessoa. Tem muita coisa em jogo, principalmente a prática da língua. Sim, tô dizendo para você se aproximar das pessoas por interesse, o que não quer dizer que seja de qualquer pessoa e sim de pessoas que você ache que pode ter uma amizade legal. O ponto de partida é a prática da língua.

3. Se só tiver grana para passar um mês, beleza, passe. Mas vá consciente de que não será nada. Dois meses também não. Talvez, não sei, de três meses em diante a coisa flua melhor.

4. Se for passar pouco tempo, veja uma forma de não trabalhar. Pelo menos não todo dia e num horário fixo. Isso me deixou muito amarrada na segunda parte do intercâmbio, até porque eu escolhi o horário errado para fazer isso. Se você estiver estudando de manhã e puder trabalhar à tarde ou à noite, de forma flexível, vai ser melhor.

Minha ideia, depois disso tudo, é retomar o curso aqui para revisar o que foi visto lá, aperfeiçoar o que percebi que sou fraca e que impactou negativamente nessa experiência, e buscar o writing. Após isso, a certificação da fluência.

Sherlock foi o primeiro livro que li por lá

Depois a história de três mulheres que desafiaram seus limites para realizar um grande sonho

Depois um clássico da ficção científica. Descobri depois que voltei que essa é a
história que inspirou Blade Runner



Nenhum comentário:

Postar um comentário