domingo, 3 de setembro de 2017

Letters from Cork 10 - O Intercâmbio em si - Parte 1



Meu primeiro mês de intercâmbio terminou essa semana e com ele a mamata de focar no descanso, nas viagens, nas aulas e na prática do inglês no dia a dia. Amanhã (com dois dias de folga a mais, obrigada Kássia!) retomo o batente realizando meu trabalho durante meio expediente.

Vou dizer pra vocês que algumas coisas têm sido bem difíceis, mas a barreira da língua por incrível que pareça é a menor. Eu tenho me virado bem e quando não fico ansiosa ou nervosa, consigo falar direitinho. O foco da Cork English Academy é esse: conversação. Fico até orgulhosa de mim mesma. Agora mesmo, acabei de voltar do cinema. Fui assistir ao filme novo do Tom Cruise, o American Made. Cara, eu entendi 75% dos diálogos. Mas não credito isso a escola. Eu tenho uma história de aprendizado em várias escolas no Recife e meu esforço próprio em ouvir e ler em inglês. Tá faltando escrever, é fato. Mas não vai ser aqui que vou aprender isso. Já tenho ciência e não estou mais aperriada a respeito, como nas duas primeiras semanas. Dois meses não dá pra muita coisa, gente. É fato.

Mesmo assim, estou mesmo feliz com isso, com esse sonho realizado. Tem dado pra desenrolar e acho que melhorei um pouco nesse tempo que estou aqui. São tantos sotaques diferentes... Eu consegui me enturmar. Baixei a guarda, a régua da idade e me deixei levar. Tenho tido contato com pessoas de vários países. Espanha, Alemanha, França, Bélgica, Coréia do Sul e do Brasil.

Tenho duas amigas brasileiras mega próximas: a Aline (de Cuiabá) e a Tássia (do Recife, vejam só!).  Tássia é minha mais nova flatmate. Já a Aline me adotou desde o meu primeiro dia de aula. Temos a mesma faixa etária e ela meio que sofria com o desdém dos demais brasileiros da turma (a primeira, na qual passei 3 semanas). Ela me mostrou a cidade praticamente e é minha guia nos melhores lugares para se divertir e para comprar roupa! Minha messstra!! :)

Na segunda turma, o avançado 1, é um pouco melhor, mas o povo tá cagando pra você também. Sim. Maioria de brasileiros. O professor muito gente boa, Martin. Irlandês típico, bonitão também, mas muito centrado, focado no aprendizado dos alunos também. Brinca vez por outra, mas na medida certa. Tenho gostado muito das aulas dele. O assunto tá complexo e ele tenta se desdobrar pra repassar pra gente. Essa semana eu me sai um pouco melhor do que o fracasso da semana passada. Subi um pouco a média na prova.

Também conheci a Ana em um dos encontros da escola. Mora aqui no prédio. Figura singular de BH. Muito divertido conversar e sair com ela. Tássia e Ana vieram pra ficar por aqui por tempo indeterminado. Aline ficou seis meses e está voltando pro Brasil. Sucesso pra todas elas é o que mais desejo nesse momento. :) Como aconteceu com o Agustito, parece que as conheço a mais tempo.

Também tem uma galera bem imbecil aqui. Sim, estou falando dos brasileiros. Novinha e sem nada na cabeça que não seja o benefício próprio. Chegam aqui sem falar o idioma - sério, tem gente que não sabe nada  mesmo! Estão aqui pra sugar o que a Irlanda tem de bom e nem da história do país querem saber. Peguei abuso de algumas posturas. Essa semana, em um grupo no Facebook, rolou uma polêmica sobre estudantes brasileiros estarem recebendo cestas básicas distribuídas pela igreja, da mesma forma como os sem teto. Eles não se passam por sem teto. A igreja destina o que não vai para os sem teto para os estudantes. Eles sabem que tem muita gente em situação difícil, sem emprego ainda. Eu não me meti, não tomei partido. Brasileiro já tem essa fama de querer levar vantagem em tudo e aqui somos motivo de piada. Sim, porque na escola, por exemplo, a maioria dos alunos é do Brasil. E a maioria não fala em inglês. Insistem no português. Por isso evitei as pessoas nas primeiras semanas. Sobre receber a cesta básica, tem gente que acha correto e gente que abomina. Eu acho que ajuda é bem vinda quando você está em dificuldade. Quando não, é querer se aproveitar. Creio que muitos estão recebendo nas duas situações.

Essa questão dos brasileiros estava me incomodando muito, até que eu realmente passei a enxergar o exemplo que Alejandro Galán, meu flatmate espanhol, estava dando. Lição primorosa de relacionamento com todo mundo. Literalmente. Ele é o RP mais foda que a escola poderia ter. Ale criou grupo no Whatsapp e articula a galera pra fazer coisas. Foi por meio dele e dessa desenvoltura toda aos 23 que eu tô desenrolando aqui. Gratidão eterna a ele, com quem tenho altas conversas sobre as coisas em comum e a vida. Ele é professor de História e um dos professores que mais me inspirou na vida foi de História, na época do colégio. Não existem coincidências... :)

Com isso tudo, quero dizer que, diante de todas as minhas limitações para socialização, estou focando em aproveitar quem está aberto a criar uma relação, como tenho feito no Brasil. Joio e trigo realmente não devem se misturar.

Com relação aos irlandeses, minha teoria é de que eles são gente boa sim, mas até o momento só conheci dois: um, o Steve, marido da minha amiga Márcia, é um ponto fora da curva. Ele é receptivo e simpático de verdade. Os demais, como os professores da escola e o pessoal que você vê nos pubs, são todos bem na deles depois de um primeiro contato. Minha teoria é de que é uma questão comercial, de sobrevivência, um comportamento adequado para uma cidade orientada para o turismo e para receber intercambistas ou imigrantes. Eu ainda não conheci irlandês algum (mentira, conheci um sim, mas não conta) que fizesse mudar essa impressão.

Com tudo isso, gostaria mesmo de poder passar mais tempo aqui. Outros meses, mas não sei quantos. Apesar do clima louco, do frio que incomoda às vezes, eu tenho gostado de viver nesse ritmo diferente. Provavelmente é o ritmo que quero imprimir para a minha vida de agora em diante. Ter hora pra tudo e mais tempo pra mim. Pra comer melhor, pra comprar comida, pra lavar roupa, pra aproveitar o fim do dia da melhor forma possível.

É outra coisa que eu observei nessas 5 semanas. A galera trabalha para viver e não vive para trabalhar. Deu 17h30 tá todo mundo indo pra casa ou pro pub tomar uma com os amigos e conversar. Sabe esse sentido de urgência de país desenvolvido? Eles não têm, aparentemente.

As coisas funcionam. O que fica aberto é supermercado, pub, farmácia... A gente sabe que isso acontece com alguns serviços e profissões. As pessoas atuam com horário diferenciado. Claro que não existe perfeição, os problemas existem e não são simples - sem teto (uma mesmo morreu essa semana), desemprego, aluguel alto X falta de lugar para morar.., afinal, a Irlanda tem se recuperado de uma crise econômica. Aqui também falam mal do transporte público, mas não posso afirmar com a experiência porque realmente estou vivendo no centro, então faço tudo andando. Compras, escola, diversão... Essa semana li uma matéria de uma pesquisa que dizia que em Cork é a cidade em que se usa mais carro na Irlanda. Vejo muitos ônibus nas ruas, vejo os estacionamentos funcionando (muita gente coloca o carro em cima da calçada como aí),  Moto aqui é lenda. Conto nos dedos as vezes que vi alguém (lembro de duas vezes), acho que por conta do frio.

Todas as vezes que precisei usar a rodoviária funcionou e bem. O atendimento nos locais é sempre amigável. O que eu sei é que tudo tem hora e acontece na hora marcada. Você não vê engarrafamentos e buzinaços com as ruas em obras (isso também em Dublin), por exemplo. Buzina é raro mesmo, graças a Deus. Imagina morar no centro com o povo tendo o mesmo hábito daí...

Em Dublin vocês precisavam ver como o pessoal se dirigia ao estádio para assistir a um jogo decisivo (eu não sei de que, mas acho que de Rugby). Torcedores rivais passando uns pelos outros sem problema. Mulheres sozinhas, mulheres em bando, crianças, famílias, idosos...

Outra coisa sensacional é poder andar a qualquer hora do dia sem medo. Voltei pra casa sozinha algumas vezes tarde da noite e é muito massa não ter a preocupação de alguém ficar te seguindo. Claro que o trauma da gente com essa vida violenta em Pernambuco/no Brasil é tamanha que infelizmente você ainda se pega olhando pros lados e pra trás pra ver se vem alguém junto...

O que achei esquisito realmente é essa coisa de que o irlandês é aberto como se fosse um brasileiro que senta e conversa como se fosse seu amigo de infância. ainda tenho uns dias pra descobrir se isso é lenda ou não. Contarei pra vocês.


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Letters from Dublin - Conhecendo a capital da Irlanda


Quarto fim de semana na Irlanda e eu decido meio que de supetão ir pra Dublin. Organizei as ideias, reservei o hostel com poucos dias de antecedência, comprei o Dublin Pass, que me daria acesso com desconto ou gratuito a várias atrações e só comprei a passagem no dia, minutos antes de embarcar. E não é que deu tudo certo? Cheguei lá na sexta à noite (25/8) e voltei na segunda de manhã (28/8).





Sai de Cork um pouco depois da aula e segui para a capital da Ilha Esmeralda. A viagem dura cerca de 3 horas. Cheguei lá o dia estava claro ainda. Deixei a mochila no quarto e fui bater perna nas redondezas e comer. O hostel ficava na parte bem central. Bastava atravessar uma ponte e andar uns 300 metros que eu estaria dentro do Temple Bar, a região boêmia, digamos assim, da cidade. Muitos pubs e restaurantes animados e para todos os gostos.

 Temple Bar

No sábado, acordei cedo pra poder usufruir o melhor possível do dia e do sol que me acompanhou até a cidade. Dei sorte!

Primeiro fui ao Trinity College, a Universidade de Dublin e a mais antiga do país. Cedinho, tinha quase ninguém. Aproveitei pra passear pelo campus e esperar a biblioteca abrir. Além de conhecê-la, queria ver a exposição sobre o Livro de Kells, criado por monges. Não tenho fotos da exposição, porque era proibido fotografá-lo. Também não foi possível chegar perto dos livros e pergaminhos, mas só de sentir o cheiro deles me deixou mais sabida. hahaha Lembrei dos amigos que curtem Harry Potter, porque rezava a lenda que algumas cenas da saga que se passavam na biblioteca de Hogwarts teriam sido gravadas nessa biblioteca, mas foram na da Universidade de Oxford, na Inglaterra (desculpa a informação errada, Rafa). Detalhe: também não foi possível folhear e nem tocar em nenhum livro ou pergaminho. Só fotografar sem flash dentro da biblioteca. Tudo bem. Done! 


Panorâmica do pátio interno da Universidade de Dublin

Fachada

Jardim de um dos pátios internos
Fachada da Biblioteca 

Olha que coisa linda. Cada pilastra uma estátua de um pensador/cientista

Cheiro de conhecimento, sabedoria...

Meu ídolo Sócrates: só sei que nada sei

Na sequência, fiquei procurando uns lugares e acabei achando sem querer a estátua da  Molly Malone, uma vendedora ambulante de peixes que morreu de febre/uma trabalhadora da noite de Dublin (?). A homenagem fica em frente à Saint Andrew's Church, uma das dezenas de igrejas que você pode encontrar na cidade (o mesmo acontece em Cork. Só me lembra Recife e Olinda...)




Depois, segui para aproveitar o Dublin Pass e fazer o passeio naqueles ônibus de primeiro andar com o teto aberto. Chama-se Hop On, Hop Off Tour, porque você sobe e desse nos pontos turísticos do percurso. Foram vários...

Sim, tava me achando de turista

A minha primeira parada foi a fábrica da Guiness. Uma experiência sensacional. Além de conhecer o processo de fabricação, memorabília, loja e propagandas da marca ao longo dos anos, também tem a hora de experimentar a cerveja num lounge massa do local, e curtir a vista do Gravity Bar. Eu não tinha almoçado, então fiquei quase embriagada. Também rolou uma apresentação rápida de dança típica irlandesa feita pelos garçons do lounge. A Guiness Experience é sensacional. Quem tiver oportunidade.



Exposição da memorabília e publicidade da marca


Lúpulo

Confecção de barris

Temperatura para torra da cevada responsável por atribuir o sabor único à Guiness 

Água: fundamental no processo

Garçons dançarinos

Hora de provar as danadas (ic!)

Gravity Bar

Depois continuei o tour com o ônibus e fui parar no St Stephen's Green, parque no centro da cidade.


Em seguida, foi a vez do Dublin Castle, que foi até 1922 a sede do governo Britânico na Irlanda, isso antes de parte dela virar uma república independente. Lindo e ainda é usado atualmente em eventos do governo irlandês. Eu me senti num episódio de Downtown Abbey.










Voltei para o hostel para me trocar e poder encontrar Márcia Costa, jornalista pernambucana com quem estudei e trabalhei na Prefeitura de Olinda. Ela mora na cidade há 10 anos e eu não poderia deixar de vê-la. O encontro foi legal. Papo quase em dia, jantar e cerveja em um quase pub crawl.

Eu com Márcia, Steve (marido dela) e uma amiga deles

Domingo, sol novamente. Aproveitei para conferir as atrações que não consegui no primeiro dia. Consegui na camaradagem mais umas horas de ônibus e fui a Dublinia, museu que abriga a história da presença Viking na Irlanda e sua influência na cidade de Dublin.












Escrita deles. Eu escrevi "home". 

Junto de Dublinia fica a Christ Church Cathedral. Estava fechada. Não esperei para entrar e ver como era. Assim como também não tive paciência para esperar a fila para entrar na St. Patrick´s Cathedral. Eu gosto muito da arquitetura, mas não sou de pegar fila....




Eu resolvi ir pra o Temple Bar almoçar no Hard Rock Café Dublin. Foi massa. Sentei na mesa bem perto do baixo do Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters.



Em seguida, rodei pelo bairro e fui conhecer o Irish Rock Museum. Foi a atração mais esperada depois da Guiness, mas que decepcionou. O museu é, na verdade, um mega estúdio onde passaram vários nomes do rock irlandês e da música principalmente da Europa. Quem conta a história é uma guia e vamos passando pelos ambientes que são ornados com discos e fotos dos músicos. O maior destaque, claro, é o U2. Não tem nada do Cranberries, o que me deixou chateada, revoltada, na verdade. E não tem uma explicação que justifique isso.







Mas tem outros nomes que eu não conhecia e coloquei na lista para, como o Thin Lizzy (esse recebe um destaque maior por ser considerado o Jimi Hendrix deles), Rory Gallager, Understones, Hozier e Snol Patrol. Estúdios de gravação, camarim onde o pessoal bebia, se drogava e compunha... Vídeo que mostra quem são os músicos que fizeram história levando a música irlandesa para o mundo.... Assim, vale, mas não vale tanto, sabe? Teve um momento em que o grupo de visitantes vai para um espaço em que podem fazer uma jam com os instrumentos básicos de uma banda de rock, mas comigo não teve graça porque só um rapaz tocava guitarra. E não havia plano B. Ou seja, a experiência ficou no caminho...

Ainda bati perna pelo centro. Procurei cachaça pra uma amiga aqui de Dublin, assim como HQs e cartoons de autores irlandeses para um amigo paulista.

Voltei pro hostel pra fazer a mochila, tomar banho e ir no Museu de Cera (Ireland Was Museum). Foi legal pelo corredor de espelhos, mas fraquinho no geral. Mesmo assim, diverti-me bastante.












Segui para Temple Bar para fazer o meu pub crawl by myself, sozinha. E fiz. Entrei nos bares que queria, pedia uma cerveja, ouvia música e saia. Fiz isso em três. No quarto, junto do hostel, sentei e fiquei pensando na vida, de como eu tinha chegado até ali e do que seria dali em diante. Meu último final de semana de férias foi assim. Valeu Dublin!!