segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Eu já celebrei um casamento. E você?


Eu já "celebrei" um casamento. Você já? Pois eu "celebrei" o casamento de Virgínia e Patrick. Eu já tinha sido madrinha três vezes, duas de pessoas que considero irmãs que a vida me deu. Morro de chorar quando vou pra um casamento e acho que é um negócio tão sério que fico arretada com o que vejo acontecendo por aí...

Conheci Virgínia creio que há uns 8 anos, durante a organização da festa de ex-alunos do colégio onde estudamos. Construímos uma amizade muito massa, não daquelas mega íntimas, mas das cheia de trocas positivas, de incentivo, admiração mútua, mesmo tendo uma década, ou mais, de diferença de idade.

Se não bastasse participar dessa despedida linda que ela organizou no dia 4/10 pra reunir os amigos e a família depois de uma temporada de férias no Brasil (ela e o marido moram na Suíça e casaram lá, há cerca de 2 anos), eles inventaram de simular o casamento que todos ali só haviam conferido por fotos. Eu já estava me organizando pra ir embora, quando Patríck anunciou essa brincadeira e me ofereci para ser a celebrante.

Catei no Google um texto de cerimônia de matrimônio e fui improvisando em cima. Logo eu, que morro de vergonha de falar em público, ainda consegui tirar onda com toda a situação que foi linda, emocionante e divertida. Resultado: um dos momentos mais massa que presenciei de celebração e confraternização em torno de um amor que poderia não dar certo por N motivos. Mas está dando e vai continuar assim.

Eu, do alto dos meus singelos 40, arrisco-me a elencar algumas razões que me levam a crer que vai sim:

1. Eles se amam (óbvio);
2. Eles se comprometeram um com o outro em fazer dar certo;
3. Eles se arriscaram sem medo e decidiram fazer dar certo.
4. Eles querem que dê certo e abrem mão, muitas vezes da individualidade, para fazer dar certo.
5. Eles dividem e se apoiam em tudo, refletem segurança um para o outro;
6. Há um mega diálogo aberto e eles são os melhores amigos que poderiam ter/ser;
7. Eles deixaram o passado no passado. O que importa é o presente e o futuro deles juntos;
8. Etc. etc. etc.

Ninguém deixa a família e vai morar num lugar com uma cultura totalmente diferente da sua, língua etc. se não tiver algumas certezas e seguranças. Ninguém abraça uma pessoa com o mesmo perfil se a sintonia não for a mesma.

Mas Bruna, tu não era contra casamento? Sério que todo mundo acha isso?! Eu fico abismada com alguns julgamentos que fazem sobre o que eu penso sobre certas coisas.

Eu já "casei" também. Morei junto por quase um ano, mas não deu certo. Foi um casamento que começou fadado ao insucesso porque só tinha o item um dos dois lados e os demais de um ou do outro lado. Foi uma experiência terrível, envolvendo traição por parte dele, anulação por parte da minha, muita expectativa frustrada no final. Mas foi uma escola que eu gostaria de não ter precisado passar e não desejo que ninguém passe. Eu vivi o céu e o inferno e optei por não continuar mesmo tendo a chance porque eu sabia que ia dar em merda e não na família que eu gostaria de ter.

O fato de não ter conseguido alcançar o que queria não fez com que eu desacreditasse na união de pessoas que se amam, na opção que fazem por viver juntas. De forma alguma. Tanto que meu desejo não mudou. Mas me fez perceber o quanto a fantasia que gira em torno do casamento é fatal para que ele aconteça e perdure. Não basta amar pra dar certo. O amor é importante. Mas não se basta.

A vida real de um relacionamento é bem mais punk que as comédias românticas que assistimos, que os livros de Jane Austen (sou fã) que lemos e que as canções de amor que ouvimos.

Facilita quando os dois querem seguir juntos na mesma direção, mas nem por isso o caminho a ser trilhado deixa de ser difícil. Já se irritou com o comportamento repetitivo do seu amor que tanto você detesta? Já se pegou pensando ter que conviver com isso no dia a dia? Já pensou viver com uma pessoa que teve uma educação totalmente diferente da sua e isso reflete totalmente na rotina e nas obrigações que dividir um espaço com alguém? E os defeitos? Já se apaixonou e sabe entender os defeitos delX? Já se perguntou como vai administrar tudo isso, contas, estresse que vem pra casa depois do trabalho, problemas de família, amigos que vocês não curtem, etc? Cansaço e vontade muitas vezes de ficar sozinho? Vamos falar mil horas aqui de coisas que rolam num casamento que você só descobre quando passar ou ouvir as histórias de quem está num ou já passou por um.

Muitos podem discordar de mim, claro. É natural. Mas acho que a gente precisa sim abrir mão um pouco de pensar apenas no próprio umbigo pra ter uma visão do que é bom pros dois. Se não houver isso, não há futuro. Não há certeza de nada, mas se não houver cessão, diálogo, respeito, um se colocar no lugar do outro sempre, não há união. E não há relação que perdure se você não zelar por ela todo dia. Se não houver um plano em que os dois estejam juntos, construam juntos, conquistem juntos, vivam juntos. Se não lembrar do quanto o que você fizer ou deixar de fazer pode afetar quem você ama e a relação.

E isso eu peço a você Virgínia e Patrick, do alto da minha singela ignorância sobre tudo que diz respeito ao casamento e ao relacionamento de vocês: não deixem de se preocupar com o outro, não deixem de pensar juntos o que é melhor para os dois, individualmente e principalmente como casal. Reguem esse cacto todos os dias. Sejam pacientes. Cuidem das suas expectativas. Não liguem o foda-se se a intenção de vocês é viver bem e juntos até envelhecerem. Se cuidem.

Muito amor e cumplicidade pra vcs sempre.


Para finalizar, chamo a Martha Medeiros que escreve muito, mas muito sobre as coisas da vida e dos relacionamentos:

Martha Medeiros: Para que serve uma relação? 

Para que serve uma relação?
Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa,
À vontade para concordar com ela e discordar dela.
Para ter sexo sem "não-me-toques" ou para cair no sono logo após o jantar.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas.
Para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete.
Para ter alguém com quem viajar para um país distante.

Para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre,
Estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações

Para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas,
E deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto,
E cobrir as dores um do outro num momento de melancolia,
E cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um perdoar as fraquezas do outro,
Para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

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