sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A passagem do ano

Lembrei do início dessa poesia do Drummond sobre a passagem do ano... Como tantas outras, essa é magnífica. Peço desculpas, meus dois leitores e meio, três, mas até que as palavras entrem na ordem correta na minha cabeça e eu consiga expressar adequadamente o que representa essa virada, ficarei, em parte, com o lugar comum do desejo de um ano novo em que sejamos (eu, vocês e nossas famílias e amigos) abençoados por Deus e cobertos por luz, paciência, tolerância, amor, coerência e muita saúde. As demais reflexões deixo ao sabor das palavras do mestre...

A passagem do ano

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.


Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olhar e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.

Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras expreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles...e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasta renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nada além de uma ilusão

Composição: Custódio Mesquita e Mário Lago

Nada além
Nada além de uma ilusão
Chega bem
E é demais para o meu coração
Acreditando em tudo que o amor
Mentindo sempre diz
E vou vivendo assim feliz
Na ilusão de ser feliz

Se o amor
Só nos causa sofrimento e dor
É melhor
Bem melhor a ilusão do amor
Eu não quero e não peço
Para o meu coração
Nada além de uma linda ilusão

sábado, 25 de dezembro de 2010

Dúvidas

Que desculpa é suficiente para remediar uma falha que, mesmo tendo sido cometida não representava um erro propriamente dito?

Depois que você mostra o que deseja, pode voltar atrás e mudar de ideia?

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.... (Chico Xavier)

Adeus


Encantamento sem medida e sem explicação
Integração aparente sem razão
Mergulho de cabeça, por um lado
Nula responsabilidade emocional, de outro
Certo ou errado querer, difícil dizer

Exagero na tinta das cobranças
Precipitação na demonstração das expectativas
Erro na tentativa de mostrar as possibilidades do real
Na interpretação do bem querer
Diante da inconstância e distância
Do interesse, do querer ser um pouco mais
O egoísmo mútuo fora o algoz
A incompreensão a saída
O distanciamento o fim

Argumentos mil poderiam tentar convencer que o adeus não é solução
O bem de ambos depende dessa definição
Cedo, tarde, não há como saber
Só com o tempo irão perceber
Lebewohl...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sonho Bom




Gram
Composição: Sérgio Guilherme Filho/Marco Loschiavo

Acordei de um sonho bom
Que eu queria gravar
Pra poder mostrar pra alguém
Que pudesse apontar
De onde vem esse anjo?
Com quem sonhei?

Reconheço aquele olhar
E o que havia em volta
Mas se é tão familiar
Quero essa resposta
Quem mandou esse anjo?
Com quem sonhei? Diz pra mim...

Ela veio e linda me tirou pra namorar
Mas foi só um beijo que fez-me despertar
Quero reprisar
O sonho bom
De onde vem? Tão angelical...
É por isso que eu sonhei

Ela veio e linda me tirou pra namorar
Mas foi só um beijo que fez-me despertar
Quero reprisar
Esse sonho bom

domingo, 19 de dezembro de 2010

Eu acredito

“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam”.
Clarice Lispector (A Hora da Estrela)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tudo

"Eu pensei que mãos dadas não eram nada, mas mãos dadas são tudo..."

(autor conhecido, mas esquecido)

domingo, 12 de dezembro de 2010

E o pulso ainda pulsa...

Paracetamol, AAS, cetoprofeno, dipirona...

Os últimos dias têm sido de experimentação farmacêutica contra as dores de cabeça que estão me atormentando. Da fronte à nuca dói. Mas os comprimidos agem apenas como paleativos.

Tem horas que eu acho a cabeça vai explodir. Tonturas, sono, calmaria, mais dor, irritabilidade, sensibilidade à luz, ao barulho. Consigo me concentrar um pouco, faço algo. Depois volta a dor.

Sem coragem de ir ao médico...

Pra Dizer Adeus

Titãs
Composição: Tony Belotto


 Você apareceu do nada
E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

Às vezes fico assim pensando
Essa distância é tão ruim
Porque você não vem prá mim?
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis chamar
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis...
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

É cedo ou tarde demais...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Alguém como tu

 




Alguém como tu,
Assim como tu,
Eu preciso encontrar
Alguém sempre meu
De olhar como o teu
Que me faça sonhar...
Amores eu sei
Na vida eu achei e perdi...
Mas nunca ninguém desejei
Como desejo a ti...
Se tudo acabou,
Se o amor já passou
Há de o sonho ficar
Sozinho estarei
E alguém eu irei procurar
Eu sei que outro amor posso ter
E um novo romance viver
Mas sei que também
Assim como tu mais ninguém

(Composição: Jair Amorim/ José Maria Abreu)

sábado, 4 de dezembro de 2010

2010 foi em ré




Ah 2010, porque você não acaba logo?
A torcida é tamanha...
Não, não. Seus 12 meses não foram difíceis.
É porque você foi um ano em ré.
Não, não. Nada a ver com o despertar do meu talento para a música.
2010, você foi um ano de recomeço...

De reequilíbrio...
De reflexão...
De redescoberta...
De reconhecimento...
De reconciliação...
De resgate...
De recrudescimento...
De redenção...
De reconstrução...
De reforma..
De reencontro...
Comigo, com você e com a vida.

Que 2011 seja de dós, rés, mis, fás, sois, lás e sis.
Que os anos que venham sejam uma grande sinfonia!

Juízo?

Essa semana alguém me disse uma coisa que me deixou intrigada: - Juízo, heim?!

Mesmo que tenha sido em tom de brincadeira, esse “conselho” me intrigou.

Fora minha mãe – é de praxe, todas elas dizem a mesma coisa sempre – ninguém tinha brincado com isso há tempos. E como foi de alguém que me conhece pouquíssimo, não saberia dizer até que ponto isso foi aquela brincadeira com fundo de seriedade.

O engraçado é que eu sempre tive tino, bom senso, ponderação ou todos os outros significados que esta palavra possa ter. Grilo falante, alter ego, seja lá o que for, eu sempre fui o ponto de equilíbrio, ou melhor,a chata, a que pensava duas vezes, a que deixava de fazer sempre achando que algo ia acontecer. Mas é fato: estou mudando minha forma de agir. Primeiro porque não tenho nada a ver com a vida de ninguém. Segundo porque estou tentando aproveitar coisas que antes não curtia suficientemente.

Mas tem horas que me surpreendo comigo mesma, com as minhas atitudes. Me pego seguindo os meus instintos e satisfazendo as minhas vontades, das mais simples, as materiais, às mais loucas. Naquele ritmo de se arrepender do que foi feito e não do que deixei por fazer. E claro, obviamente, também me questiono: Será que estou perdendo um pouco o juízo? Será que ele está “saindo da cabeça, tomando o corpo e vai acabar no pé”? Será que estou seguindo o que diz a música dos Menudos, “não se reprima”?

Dia desses eu virei pro meu sobrinho e disse: menino, toma juízo! Ele virou pra mim e disse: tia, eu até que tentei, mas só tinha vodka! Eu acho que agora é por aí! haahaha!

Trechos de Não se reprima, dos Menudos, para refletir:

“Não segure muito teus instintos
Porque isso não é natural
Sai do sério, fala alto, dá um grito forte,
Quando queira gritar
É saudável, relaxante, recupera
E faz bem a cabeça”...

“Vá em frente, entra numa boa
Porque a vida é uma festa
Não controle, não domine, não modere
Tudo isso faz muito mal
Deixe que a mente se relaxe
Faça o que mandar o coração”...

“Chega de fugir, de se esconder
E de deixar a vida pra depois
Não persiste mais, se o mundo gira,
O tempo corre, nada vai te esperar
Entra de cabeça nos seus sonhos
Só assim você vai ser feliz”.