domingo, 30 de maio de 2010

"Em qualquer ação há riscos e custos,
mas eles são infinitamente menores
do que os riscos a longo prazo e os
custos da imobilidade confortável"

(Johh F. Kennedy)*

*McWilliams, Peter. Quem acredita sempre alcança. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

Todas querem ser uma sra. Darcy


Ao longo do tempo, as mulheres, a custo de muita luta e sofrimento, galgaram seu merecido lugar na sociedade. Essa conclusão é um clichê, mas é fato que conquistamos o direito a cidadania, escolhendo quem seriam nossos governantes, alcançamos liberdade sexual e de escolha pelo momento de ser mãe com o advento da pílula anticoncepcional. Passamos a exercer cargos e funções com a mesma disposição e competência (até maior) do que a do sexo oposto. Deixamos de ser a do lar para querer ter um lar. Mas, no auge do ritmo frenético desta primeira década do século XXI e com a tendência de desenvolvermos relações superficiais e baseadas em atração sexual, o que todas as mulheres solteiras (e até as casadas) que conheço com a minha faixa etária querem é ser uma sra. Darcy.

Ser uma senhora Darcy é, nada mais, nada menos, do que ser a mulher, a musa inspiradora de um homem apaixonado que sucumbe ao próprio orgulho e preconceito para se tornar merecedor do seu amor. Esse “conceito” é inspirado na relação dos personagens Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, o sr. Darcy, do filme “Orgulho e Preconceito”, adaptação da obra homônima da escritora inglesa Jane Austen ao qual acabei de assistir.

Muitos filmes nos inspiram reflexões sobre as relações que vivenciamos no nosso dia a dia. O Diabo Veste Prada, outra película baseada num bestseller, este da autora americana Lauren Weisberger, já tinha me alertado para outra questão óbvia nos dias atuais: mulheres que conseguem alcançar o sucesso no campo profissional precisariam fazer uma escolha entre mantê-lo/vivenciá-lo ou ter um trabalho “comum” e uma vida “comum”, dedicada à família e ao homem que ama. Esse é pano de fundo da personagem Miranda Priestley, interpretada pela fantástica Meryl Streep, na adaptação do livro para o cinema.

O dilema que hoje perpassa pela mente e pelo coração de todas as balzaquianas que conheço é como concretizar o desejo de ser os dois lados da moeda: 1) a “cara” sra. Darcy, amada, amável, amante e mãe dedicada; e 2) a “coroa”, mulher inteligente, independente, decidida e que corre atrás da sua realização pessoal também por meio do sucesso profissional.

Sinceramente ainda não sei em que momento da vida esse “equilíbrio” isso é possível. Claro que o sr. Darcy da história de Austen é a soma de todas as qualidades que uma mulher pode esperar de um homem, mas quem já viveu dez minutos sendo uma sra. Darcy, tem esperança de que em algum momento poderá vivê-la plenamente, desde que encontre alguém que se disponha a ser o seu mr. Darcy.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Saindo da zona de conforto


Há alguns anos uma amiga me deu de presente um pocket book chamado “Quem acredita sempre alcança*”, uma coletânea de citações de grandes personalidades que tinha como objetivo ser uma injeção de ânimo para quem quer assumir as rédeas da própria vida. De acordo com a orelha do livrinho, às vezes nós sentimos uma insatisfação vaga e indefinida, uma sensação de que não temos domínio sobre as próprias escolhas. Mas, como não sabemos o que fazer – e temos medo, de certo modo, sentimos culpa, baixa auto-estima – acabamos nos acomodando e colocando de lado as nossas aspirações e sonhos.


O livrinho traz um conceito que achei muito interessante, mas vago na época que ganhei, mas que hoje faz todo sentido na minha vida: a zona de conforto. Nem percebemos quando estamos nela, mas chega uma hora em descobrimos que estar confortável nem sempre nos deixa satisfeitos e felizes.

A grande mudança que ocorreu na minha vida serviu para que eu acordasse para a realidade “confortável” que eu estava vivendo. Achava que aquilo que eu tinha planejado (sozinha, diga-se de passagem) era o suficiente. Mas percebi que se realmente continuasse daquela forma, meus desejos mais simples e os mais profundos não poderiam ser realizados. Então aceitei a mudança. Sofri, claro, venho aprendendo com tudo o que aconteceu, mas estou aqui, cheia de vontade de viver.

A partir disso e de todo um reencontro interior – nem tão positivamente surpreendente -, passei a tentar mudar internamente para que aos poucos essa “transformação” pudesse se refletir em meus atos e atitudes.

Tenho procurado redescobrir as coisas que eu gosto e dar valor e sentir alegria com coisas que antes não me satisfaziam, como fazer coisas com a minha família. Busco sair da rotina e da repetição do cotidiano e creio que agora estou retomando as rédeas, como diz o livro, da minha vida.

Ainda não tenho um grande sonho a ser realizado, mas muitas vontades estão (re) aparecendo. Já falei de algumas delas aqui em outros posts e estou me movimentando para trilhar o melhor caminho para realizar algumas delas, pelo menos.

Depois de tantos desencontros, muitos dos que me fizeram começar esse blog, acho que agora é a hora de passar a encontrar. Por isso, minha citação de hoje (vou tentar sempre trazer uma por aqui) é esta:

“Nós nos comportamos como se o conforto e o luxo fossem as necessidades prioritárias da vida, quando, na verdade, tudo de que precisamos para ser felizes é algo que nos entusiasme” (Charles Kingsley)

*McWilliams, Peter. Quem acredita sempre alcança. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vazia

Essa foi escrita pra mim.

"Te amei
como nunca amei nessa vida
e do final deste amor
restou uma mulher tão fria
que nem por ti mesmo
conseguiria sentir
o amor que senti um dia".

(Medeiros, Martha. Cartas extravidas e outros poemas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. Pg7-8.)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O maior presente é poder agradecer



Daqui a cinco dias, viro a folhinha de mais um ano de vida. Um ano difícil, cheio de mudanças de rumo e de necessidade de renovação. Nesse período, perdi e ganhei muita coisa. E agradeço a Deus por todas as coisas que ganhei e por todas que descobri. Talvez nesse ano o meu melhor presente tenha sido amadurecer e perder um pouco da ingenuidade que guiava as minhas relações, todas elas. Hoje as enxergo com mais clareza. Por isso, numa data dessas só tenho a agradecer, nada fundamental a pedir.

Nunca fui fã de comemorações, sempre fiquei meio depressiva perto do meu aniversário, mas esse ano vou tentar encará-lo com outros olhos. Reafirmo: tenho muito a agradecer, a comemorar! A vida, os amigos, a perda que tive, os ganhos consequentes, a recuperação da minha fé em Deus. Mas se pudesse pedir apenas um presente, escolheria recuperar a crença nas pessoas.  

Se eu pude$$e me presentear, a lista dos desejos seria a seguinte:

1) Um caozinho pequeno (Yorkshire, Pug ou Shih-Tzu)
2) Um carro
3) Uma viagem para Fernando de Noronha
4) Um pacote de massagens relaxantes
5) Um dia free no salão de beleza
6) Sapatos novos
7) Bolsas para combinar com os sapatos
8) Um dicionário de inglês para inglês
9) Um travesseiro novo
10) O livro "Nosso Lar"
11) Remédios que a dermatologista passou
12) ...

domingo, 2 de maio de 2010

Um dia vai ser assim

Caminhante, passou por mim em passos lentos
Com uma blusa que jamais o vi usar e um cavanhaque
Ele que que tinha o rosto imberbe e cujas blusas eu lavava todas
Cruzou por mim na calçada e me olhou com olhos novos
Da mesma cor de antes mas eram olhos outros
que viram virgindaddes durante o nosso tempo apartado
Era ele mas era outro, e eu era eu mesma, e outra
E a distância entre nós era bem mais longa que aqueles passos curtos
E o tempo entre nós era infinito no nosso desconhecimento mútuo
Ele que tanto amei e ele a mim, que trocamos beijos mais que íntimos
Suas cicatrizes pelo corpo que lambi, e ele aos meus seios
Ele que não me foi secreto por anos e eu por ele igualmente traduzida
Caminhante, hoje passou por mim como se não houvesse passado
Ele, em passos lentos, fez um sinal educado com a cabeça
Eu, com meio-sorriso, fiz que não tinha importância

(Medeiros, Martha. Cartas extravidas e outros poemas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. Pg7-8.)

Nos sonhos volto a te encontrar

Não te vejo, não te escuto e nem tenho mais a sua presença. Mas, nos meus sonhos, continuamos nos encontrando vez por outra. Hoje foi mais um daqueles em que ficamos juntos, envolvidos numa aura de muito carinho. Olhos nos olhos, afagos, palavras de saudade e ternura. Aconchego, calor, sensação de completude e confiança. Nessa vida, talvez sejam esses os momentos reservados pelo destino para estarmos realmente juntos. Raros, mas talvez os instantes mais verdadeiros que poderíamos viver.

Vergonha e constrangimento alheio

Todo mudo já deve ter sofrido com vergonha e constrangimento alheios. Seja de um amigo ou de um familiar, a sensação é horrível. Você quer cavar um buraco e se enfiar nele até que o episódio que lhe desagrada e chama a atenção desnecessariamente para quem acompanha o pivô do constrangimento acabe. Torce pra que ninguém esteja olhando, ouvindo, mas sabe que está. Torce pra que tudo acabe logo.


Além de causar esse sentimento negativo, o indivíduo constrangedor sequer tem noção daquilo que provoca. Claro que muitas vezes rimos mais alto que o necessário, derrubamos alguma coisa, esbarramos em alguém, mas isso é normal. Anormal é querer aparecer do nada, por nada e para nada, sem se preocupar com o ambiente em que se está e com quem está acompanhando.

Eu confesso: morro de vergonha de algumas coisas que acontecem quando estou em locais públicos com a minha família, mais especificamente com a minha mãe. Depois dos 60, ela resolveu que está sempre certa, que pode falar alto, quase gritar, e agir da forma como acha que deve agir em qualquer lugar, doa a quem doer. Quem tiver achando ruim que se exploda!

Fazendo uma avaliação rápida dos últimos episódios de constrangimento que ela me proporcionou – nem sempre em praça pública – posso afirmar que reações a isso estão acontecendo naturalmente. Percebi que prefiro ficar trancada no meu quarto a fazer companhia a ela na sala. Que não chamo ela para ir para a praia comigo porque sei que ela vai ficar falando mal de todo mundo que está passando, ficar se metendo nas conversas (se meter é desviar o foco do assunto para si e não simplesmente participar da conversa) e dando uma de moderninha o tempo todo. Isso me irrita profundamente. Ela quer ser “legal demais”, brincalhona demais, mas passa do ponto, chegando a ser inconveniente. Claro que ninguém fala isso porque, acima de tudo, as pessoas a respeitam pela idade e história de vida, porque é minha mãe, mas dá pra ver no rosto dos outros o espanto que certas atitudes e palavras causam.

Não queria sentir isso, mas às vezes tenho vergonha dela. E sei que falar isso pra ela como eu fiz agora a pouco magoa. Mas todas as vezes que ela passou do ponto comigo, fazendo-me ficar constrangida na frente das outras pessoas, não lembrou sequer que isso poderia acontecer ou que estaria me magoando. E quando eu falei que ela fez vergonha, ainda veio com chantagem emocional barata, dizendo que “um dia eu ia sentir falta de quem me fez passar vergonha”.

Eu com certeza vou sentir muita falta, não tenho dúvidas, porque tirando essa questão do constrangimento que ela me fez passar ao longo da vida, ela é uma mãe praticamente perfeita, afetuosa, prestativa, um anjo de candura mesmo. Mas isso me machuca demais. Sempre machucou. E agora eu consigo falar a respeito, apontar o que eu não gosto e o que me afasta dela.

ATUALIZAÇÃO - Hoje pela manha, depois de dois dias de sofrimento, acordei disposta a pedir desculpas pelo erro que cometi, pela forma como falei, mas não do que falei. Vamos ver se terei direito a essa bênção.