- Isso é hora amor?
- Oi! Eu só te encontro de madrugada... Tem hora melhor que essa?
- Você tá bem? Eu to ótimo. kkkk
- Também tô ótima. Bêbado não?
- Meio bêbado, mas consciente.
- E aí, conta uma coisa boa.
- Hummm. Ainda tenho mais duas cervejas apesar de já estar muito bêbado. ;) Acho até que vou tirar duas do freezer.
- Que cerveja?
- Heineken. Você ta morando onde mesmo?
- De volta a casa da minha mãe. Por que amore?
- Só pra lembrar. Você podia morar mais perto. Dormiria no seu colo se você deixasse...
- Se fosse um pouco mais cedo, você dormiria. Perto é relativo quando a gente está com o transporte certo disponível. E outra: não tomei o vinho que comprei pra gente.
- Bota debaixo do braço e vem pra cá.
- A 1h30 da matina? :) Se for do SEU jeito sempre dá, né?
- Daí pra cá dá 10 minutos sabia? A vida é assim: em vez de conversar por MSN a gente pode conversar pessoalmente.
Depois de trocarem mais algumas palavras, ou ele a convenceu ou ela cedeu. Ninguém nunca saberia.
Pegou o carro e foi ao encontro dele. Nos dez minutos do caminho que precisava percorrer, lembrou-se de quando tinham se conhecido. Era apenas uma estagiária. Ele praticamente um profissional. Tímida, recatada. Ele sexy, metido, metido a intelectual. Feia, desengonçada. Lindo. Nunca conseguiam trocar cinco minutos de conversa. Aparentemente (e conscientemente) não tinham nada em comum. O pouco que falavam eram amenidades, mas, de alguma forma, gostavam um do outro.
Ele a atraía. Sempre tivera queda pelos mais populares, os mais belos. Ele não dava bola para os seus olhares, nem para mais nada que lhe dissesse respeito.
Há muitos anos, convidou-a, assim como a outros amigos, para um churrasco na piscina do apartamento onde morava. Num dado momento, ela pediu água. Ele, gentil, levou-a até a cozinha. Subiram, conversaram um pouco. Na volta, a atração que sentiam se libertou. Trocaram alguns beijos e amassos na escadaria do prédio. Como se nada tivesse acontecido, eles voltaram para a festa e pronto: mais uma candidata a paixão não correspondida. E foi assim por algum tempo.
Continuavam se encontrando nos corredores da faculdade onde ambos estudavam. Às vezes sentavam na lanchonete e conversavam sobre os rolos dela e ele contava as suas histórias...
Anos mais à frente, vez por outra se beijavam numa sala de aula vazia na faculdade. Se afastavam e se aproximavam, nunca foram amigos o bastante para conversar sobre os problemas, família, aspirações. Nem havia nada a mais que os fizesse manter qualquer tipo de relação. Afinal, o que tinham realmente para compartilhar?
Após outro reencontro anos à frente, ela bastante diferente, menos bicho do mato, recebeu um convite para ir a casa dele para ver um filme e conversar. Não tinha nada a perder, nem a ganhar.
Não conseguiram assistir à metade de “As 10 coisas que eu odeio em você”. Ela era virgem, romântica. Queria que a primeira vez fosse com alguém que ela amasse e que a amasse também. Queria troca, paixão. Ele compreendeu. Ficaram juntos. Curtiram-se, apenas.
Ele se mudou, tentou a vida na maior metrópole do país. Ela seguiu sua vida, namorando, sendo quem queria, fazendo o que acreditava.
Anos depois, retomaram o contato. Se falavam raramente num programa de bate-papo. Agora ela era quase outra pessoa, apesar da essência ser a mesma. Ele parecia o mesmo de sempre.
Certa vez, ao conversarem naquele ambiente virtual convidou-se para ir ao seu apartamento. Ela não podia... Gostava da ideia, mas tudo ia de encontro aos seus princípios, ao que queria e vivia naquele momento. “Um transa adiada é uma transa perdida”, tentava convencê-la, atribuindo a Vinícius de Moraes uma máxima machista comum. Detestava aquele jeito que ele tinha de dizer a coisa certa, na hora certa...A proposta ela tentadora, mas ela não podia. Não queria...
- O que você gosta de beber?
- Vinho derramado entre as costas e a bunda, ele dizia...
Ela adorava aquelas coisas. Combinaram de tomar vinho outro dia.
E o dia havia chegado. Ele estava bêbado. O horário era inaproriado. Gostava disso, de ser transgressor, de quebrar as regras, fazer tudo que desse na telha, sem muito receio das consequências. Era da essência dele querer algo assim, ser instintivo. Não se mostrava para qualquer um, muito menos para ela. Apesar de geralmente ser e de agir de forma oposta, ela aceitou. Ela tinha comprado o vinho...
Ao estacionar, ele estava à sua espera.
Ele queria colo, ela precisava dar e receber carinho. Conversa, colo, carinho, sexo esquisito, desajeitado, diferente do imaginado por tantos anos. O melhor da conchinha, do aconchego. Dormiram juntos.
Dia seguinte cada um para o seu lado, como sempre. A garrafa de vinho que prometeram apreciar juntos tinha sido esquecida. Continuara fechada, em algum canto da geladeira...