Quando eu comentava com as pessoas mais próximas que iria para Cork, na Irlanda, que passaria oito semanas, todo mundo ficava brincando: "-Não volta mais. Vai conhecer um gringo e ficar por lá". Como se o que me movesse para esse sonho fosse a vontade de achar um amor, pra não dizer outra coisa.
Eu sempre ficava rindo porque se nada acontece - eu só me lasco - quando eu domino a língua e conheço os lugares, onde eu fico mais segura, imagine fora do país! Eu realmente estava numa vibe low profile quanto a conhecer caras na Irlanda. Nunca foi meu foco.
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Um ( ) só para contextualizar. Meu histórico recente de relacionamentos não é dos melhores. Há 8 anos meu "casamento" acabou. Fui traída e não aguentava mais ser tolhida, etc. Looonga história. Algumas pessoas conhecem. Passei quatro anos solteira e resolvendo todas as pendências e pontas soltas, meio como naquele filme "Alta fidelidade". Reencontrei o amor num antigo amigo/professor. Foi um relacionamento massa até que o relacionamento passou a não ser prioridade na vida dele. Eu cai fora mesmo ainda gostando muito. Acho que vou ter esse carinho e esse sonho de relacionamento perfeito e idealizado sempre com ele. Depois disso, foi só bola fora, contando com o fato de minha mãe duvidar de minha opção sexual, dizendo que eu nunca dava certo com ninguém - eu sempre terminei os relacionamentos quando eles não estavam mais bons o suficiente - e me cobrar um neto ano passado. Sim, a minha tolerância é pequena, mas eu vou até o meu limite sempre. E ele começa quando eu estou me anulando em favor da relação.
Bem, envolvi-me com dois amigos, caras que já conhecia há anos, que tinha rolado um sentimento, mas que nada tinha acontecido até 2015 e 2016. Apaixonei-me por um deles de doer, como há muito tempo não acontecia. Difícil foi me recuperar. No outro caso foi um baque mais leve porque saquei logo de início o que não aconteceria. Sabe aquela coisa que é melhor manter a amizade do que perder o amigo? É pura verdade. Pelo menos foi nessas circunstâncias.
Depois de mais de um ano no 0x0, foco mesmo no trabalho e no intercâmbio, aconteceu uma inesperada e não planejada paixão linda, correspondida de certa forma, mas impossível de acontecer. Minha "alma gêmea", provavelmente, se é que isso existe, mas impossível de se concretizar. Depois disso, em maio conheci um cara que de tão diferente de mim me chamou atenção. Ajudou no meu propósito de emagrecer, de ficar bem comigo mesma antes da viagem. Mas foi só isso. Agindo tipicamente como quem não está (mais) interessado, foi se afastando, focando em si mesmo. De atencioso extremo - o que me chamou a atenção - a ausente. Então eu viajei de coração fechado, claro. Fecha ( ).
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Em Cork a maioria dos caras é lindo. Mas eu realmente não estava com esse foco e é lenda que eles chegam matando em cima de quem é diferente, ou seja, das brasileiras, que são maioria. Todo mundo muito mais novo. Eu sempre estava em grupo porque precisava me comunicar. Já tinha feito algumas amizades e me diverti muito assim. Mesmo não aparentando os meus 38 - todo mundo me dava de 23 a 28 -, não estava com essa disposição. Mas é fato que você vai num pub e não sabe para onde olhar. O Deep South é um lugar maravilhoso pra limpar a vista. Mas não foi lá que eu fui apresentada ao irlandês. Foi no Crane Lane. No primeiro dia em que saí em Cork, uma sexta-feira, festa latina e tal. Amigo de um amigo de uma amiga, chegou em mim como diziam que os irlandeses faziam (ele foi o único).
Depois que foi apresentado, perguntou de onde eu vinha, porque tinha escolhido Cork, o que eu fazia, já colocou a mão na minha cintura e pediu meu telefone. Um cara com 28 anos apenas, mas que mostrou ter a atitude que eu sempre espero de alguém que se aproxima com interesse. Foi legal e diferente. Chamou pra dançar, pediu beijo na bochecha e depois um beijo de verdade. Como eu disse, eu não estava lá com esse foco, então tudo seria lucro. Eu falei que o irish era ruivo e tinha olhos verdes azulados? Bom, ele tinha. Era o típico irlandês...
Ele foi embora cedo com o amigo e eu fui pra casa. Esperei ligação e nada... Já estava claro que não rolaria. Quando um cara quer, ele procura. Como eu achava que poderia ser uma oportunidade de praticar conversação com um nativo, eu mandei mensagem e sim, ele respondeu e lembrava de mim. Tentamos marcar algo por umas semanas e nada aconteceu. Eu simplesmente deixei pra lá.
Nesse ínterim, eu estreitei os laços com um amigo do meu flatmate. Coreano, 1,85m, lindo, figura de energia positiva, engraçado, inteligente e nerdão, secão por Game of Thrones... Eu fiquei meio admiradinha demais e, depois de tomar uma cerveja com ele numa aula de dança irlandesa, resolvi chamar pra ir ao cinema. Depois para tomar um café. Não deu certo. Segundo meu amigo, ele tinha saído de um relacionamento à distância meio traumático e não tava ali em Cork pra isso. Pelo menos não comigo, né? Aquela desculpa clássica e educada que se dá quando não se tem interesse. Pelo menos deixou claro, né?
Quem tirou a foto do elefante colorido com a gordinha foi o irlandês
Essa foi a praia de Inchydoney, em West Cork, que ele me levou. Linda, mas vento que só...
No fim das contas, eu só soube disso depois que, do nada, o irish fez contato. Ele sempre fazia e sumia. Mas dessa vez, ele chamou pra sair. Eu fui, claro. E ficamos novamente. Rolou química. Depois, o contato foi mais frequente, mas sempre no tempo dele. Eu cansada disso ficava sempre na minha. Afinal não queria me envolver. Ele reapareceu três dias depois, no dia em que Fiona teve o problema de saúde e foi operada. Eu não estava com cabeça pra nada, mas depois que soube que a cirurgia tinha corrido bem e ela estava estável, eu tentei relaxar e saí com ele. No dia seguinte, ele me levou pra uma praia linda em Cork. Tomamos café da manhã num pub de um hotel, conversamos sobre nossas famílias, trabalho - ele é engenheiro e trabalha na concessionária de energia de lá, tem mestrado, já tinha morado em Londres e nos EUA, sem falar que é jogador de hurling, esporte típico da Irlanda. Não curtia música, filmes e seriados como eu, mas o resto tava de bom tamanho.
Ele demonstrava tanto prazer em estar na minha companhia, como diria o Lulu Santos, que eu também passei a querer o mesmo. Criei expectativa e fudeu... Depois disso ele sumiu, pra variar. Tínhamos marcado de nos vermos alguns dias depois, mas ele disse que estava doente. E seria minha penúltima semana lá. Enfim, eu fiquei muito chateada porque não nos vimos mais.
Fui pra Paris com o coração apertado por Fiona, mas também com a sensação de que algo mais poderia ter acontecido e sem entender os motivos. Eu fiquei na minha, não falei mais nada. Eu detesto ficar no váculo. Prefiro a verdade sempre, mesmo que doa. Não foi mais bonito o outro cara dar uma explicação plausível?
Eu só sei que de Londres eu mandei uma mensagem, pois não aguentei mais. Ele finalmente respondeu se desculpando por não ter "voltado pra mim", dizendo que estava para escrever há um tempo, mas não se explicou. Disse também que definitivamente eu mantivesse contato e que tinha gostado do nosso tempo juntos. Eu sabia que tinha, por isso pra mim nada daquilo fazia sentido. Disse ainda pra eu me cuidar.
Dia desses, mandei uma mensagem dizendo que todas as vezes que ouvia a música "Galway Girl", do Ed Sheeran, lembrava dele. Como não associar? A garota de Galway que se apaixona pelo cara da Inglaterra? Poderia ser o cara de Cork que se apaixonou pela brasileira, né não? hahahaha Muita viagem... Eu fiz contato novamente puxando papo, mas nada sentimental, sabe? Pra saber como ele tava, se tinha gostado da mudança de trabalho, como estavam as partidas de hurling... Falei do furacão que poderia atingir a Irlanda e nada. Foi a última vez.
Eu, no final das contas, me envolvi realmente, mas sem planejar, com a possibilidade de viver algo real novamente. Em alguns momentos pareceu filme. Foi muito legal. Foi meio mágico... Virou mais uma história dessa minha aventura além mar.
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