Era uma vez uma menina que olhou para dentro de si e só encontrou um grande vazio. Até aquele momento, nada parecido fazia parte da sua vida. Tudo parecia tão certo, dentro do planejado... Passaram-se semanas, meses de angústia e profunda reflexão sobre como aquele espaço enorme parecia lhe colocar diante de uma vida que ela tinha vivido, mas não reconhecia mais, não se reconhecia mais, e de uma outra que não sabia como começar a viver.
Durante o tempo de introspecção, percebeu que sempre fora uma criança, uma jovem diferente. Com os colegas e amigos nunca teve proximidade afetiva. Apesar de todo o carinho que envolvia a relação fraternal ou familiar, havia um certo distanciamento, poucos afagos, apenas o suficiente. Nunca imaginaria que esse tipo de coisa influenciaria no seu comportamento ou nos seus relacionamentos. Não lembrava de quantas vezes tinha saudado um amigo com um abraço ou dito um eu te amo aos seus pais. Concluiu que não sabia dar, nem receber carinho e essa constatação a remeteu diretamente ao que sua alma sentia falta.
Certo dia se apaixonou e se entregou. Mudou sua vida, os planos, tudo pra viver aquele sentimento. Não sabia que não estava preparada para isso, pois não conhecia as nuances que o amor e o carinho podem denotar para cada ser humano.
Sentiu na pele, ouviu várias vezes que não sabia ser carinhosa, que sua forma de amar era diferente, insuficiente. Logo ela que achava que os maiores gestos de amor não estavam necessariamente nos grandes atos físicos, mas nos detalhes, na lembrança de um momento especial, em dedicar atenção pro inesperado, em se doar sem medidas.
Até amor em demasia faz mal.
Depois de se decepcionar consigo mesma e com o amor, voltou a se retrair como um grão de areia dentro de uma ostra que, por um milagre de Deus, uma dia se transforma numa pérola, louca para brilhar, pra recomeçar.
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