sábado, 12 de junho de 2010

Vidas que se (re) encontram - parte 1

Pra não dizer que eu perdi o romantismo, publico nesse 12 de junho a primeira parte de um conto que comecei a escrever em 2009 e concluí este ano. Tive orientação profissional de um amigo escritor, a quem agradeço de coração, para ele chegar ao ponto que chegou.

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Havia se passado dois anos e alguns meses depois do último encontro. Algumas palavras duras tinham sido trocadas. E um distanciamento até natural para o que ocorrera. Depois, a retomada, aos poucos, daquele antigo sentimento.

Para Bete, ele era o retrato do que esperava de um homem. Responsável, trabalhador, inteligente, divertido, tinha pegada, era lindo... Para Carlos fora mais do que uma fantasia. Ela fizera com que quisesse viver algo novo, recomeçar. Ter mais paixão, cuidar mais, prezar mais. A garota por quem tinha se apaixonado por várias vezes no passado, virara uma mulher forte, menina na medida certa, na hora certa. Não podia imaginar que desejaria novamente alguém daquela forma.

Numa tarde de sexta-feira, sob o pretexto de ir médico, Bete saiu mais cedo do trabalho. Estava ansiosa, pois iria apanhá-lo no aeroporto. Carlos viria encontrá-la. Resolveu antecipar a viagem de trabalho para a qual havia sido designado.

E lá estava Bete. Não sabia o que esperar daquele encontro. O painel que anunciava a saída e a chegada dos vôos no aeroporto era enorme, mas ela mal conseguia decifrar as informações, nem ouvia direito o que a aquela foz feminina eletrônica anunciava. O hall estava cheio. Aquele burburinho de gente conversando, passando para lá e para cá cheios de malas.

Dezenas de vezes pegara o celular para ver as mensagens antigas e lá estava uma do dia anterior que não cansava de ler: - Se eu não conseguir chegar é porque o meu coração saiu pela boca.

Aquela mensagem era um gatilho para a lembrança dos poucos encontros que tinha tido com Carlos. Nenhum deles totalmente a sós. Quer dizer, só um...

Andava de um lado para o outro, roia os dedos, passava a mão nos cabelos, olhava o relógio, colocava e tirava as mãos do bolso, tentava conferir novamente as informações no monitor. Resolveu comprar chiclete para relaxar. Mais um anúncio com a voz feminina e...

- A Super Flight informa: vôo-2-6-5-8-de-São-Paulo. Desembarque-portão-Sul. Parecia que o vôo que trazia Carlos estava taxiando. Vestia calça jeans e blusa solta, decotada, ombros à mostra. Queria que ele a achasse linda quando a encontrasse.

Vinte minutos e uma caixa de chicletes depois, ele apareceu no desembarque. Jeans surrado. Os músculos e os braços malhados delineavam a camisa quase colada ao corpo. Uma pequena mala e um sorriso largo. Os olhos claros brilhantes agitados procuravam-na. Finalmente havia tomado coragem de fazer o que tinha desejado, planejado e adiado por tantas vezes.

Quando se encontraram, sorriram. A distância de 11 anos e centenas de quilômetros se transformou numa separação por pouquíssimos metros. Um abraço longo, forte, os corpos pareciam se conhecer. Ambos se emocionaram. Não falaram nada.

Depois de disfarçarem e enxugarem as lágrimas que brotavam discretamente, ele tomou a sua mão, beijou-a e dirigiram-se para o elevador que levava ao edifício garagem de mãos dadas. A vontade era de saírem correndo quando as portas se abrissem para poder pegar o carro o mais rápido possível no estacionamento. O destino era a Praia dos Carneiros, perto da qual ela tinha passado férias com a família certa vez e, desde então, sonhara levá-lo.

Quando o elevador se abriu, ela não teve dúvidas: saiu puxando Carlos em direção ao carro. Brincando, ele perguntou se não queria que ele dirigisse para ser mais seguro, porque se ela guiasse da forma como puxava a mala... Seria a primeira de tantas brincadeiras que ele faria naqueles dias. Bete respondeu-lhe com uma tapa de leve no braço e um sorriso carinhoso.

Ao abrirem o porta-malas, ele a puxou para si e beijou-a intensamente. Dois lábios que se tocavam delicadamente, reencontrando-se, reconhecendo-se, afinal. Depois outro sorriso sem palavras. (continua...) 

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