Nada. Já estava cansada de todos perguntarem o que estava acontecendo e Beatriz responder “nada”. Era justamente isso que a incomodava: nada acontecia. Todo dia a mesma coisa, as mesmas pessoas, os mesmos problemas, as mesmas chatices. Certo dia, ouvindo música, um dos seus passatempos preferidos, ao colocar Hey Jude, dos Beatles, para tocar, uma das estrofes se sobressaiu entre as demais: “The movement you need is on your shoulders” (o movimento que você precisa está em seus ombros). Ela sempre ouvira aquela música, mas a achava boba. O “na na na na” repetitivo sempre a irritou, mas daquela vez a frase fez sentido.
Em poucos segundos, passou em revista sua rotina. Casa, comida, trabalho, poucos, mas bons amigos. Teoricamente não tinha do que reclamar. Mesmo assim, sentia um vazio enorme. Tinha dias que dormia tarde, tentando ocupar a cabeça com besteiras para não se sentir tão sozinha, sem amparo. E nessas horas não tinha a quem recorrer.
Quantas vezes pegara o celular e passara a vista na lista de contatos. Tantos nomes, mas para quem ligar? Pensava em alguns nomes, mas eles no fim das contas não representavam nada também.
Desse dia em diante, decidira que iria retomar as rédeas da própria história de vida. A vontade de mudar o que sentia quando estava assim, um pouco depressiva, era ainda mais forte do que a tristeza que teimava em ir e voltar vez por outra.
Decidiu viver um dia de cada vez e ir mudando seus conceitos aos poucos. A paciência, nesses casos, devia ser sua melhor amiga.
Mudanças de fora para dentro às vezes não demonstram verdadeiramente o que está acontecendo, mas Bia decidiu mudar o visual. Num mesmo dia foi ao centro da cidade e comprou roupas e sapatos novos. Maquiagem, acessórios para combinar com o novo visual. Depois, cheia de sacolas, passou no cabeleireiro e pediu para radicalizar. Corte curto, sobre os ombros. Assumir os cachos, o volume e, assim, quem era.
Enquanto o cabelo caia, ao ser cortado, algumas das agruras também estivavam sendo aparadas. A mudança era difícil para ela. Gostava de uma certa rotina, de ter controle sobre as coisas e agora tudo era tão incerto.
(08/01/2010)
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