domingo, 2 de maio de 2010

Vergonha e constrangimento alheio

Todo mudo já deve ter sofrido com vergonha e constrangimento alheios. Seja de um amigo ou de um familiar, a sensação é horrível. Você quer cavar um buraco e se enfiar nele até que o episódio que lhe desagrada e chama a atenção desnecessariamente para quem acompanha o pivô do constrangimento acabe. Torce pra que ninguém esteja olhando, ouvindo, mas sabe que está. Torce pra que tudo acabe logo.


Além de causar esse sentimento negativo, o indivíduo constrangedor sequer tem noção daquilo que provoca. Claro que muitas vezes rimos mais alto que o necessário, derrubamos alguma coisa, esbarramos em alguém, mas isso é normal. Anormal é querer aparecer do nada, por nada e para nada, sem se preocupar com o ambiente em que se está e com quem está acompanhando.

Eu confesso: morro de vergonha de algumas coisas que acontecem quando estou em locais públicos com a minha família, mais especificamente com a minha mãe. Depois dos 60, ela resolveu que está sempre certa, que pode falar alto, quase gritar, e agir da forma como acha que deve agir em qualquer lugar, doa a quem doer. Quem tiver achando ruim que se exploda!

Fazendo uma avaliação rápida dos últimos episódios de constrangimento que ela me proporcionou – nem sempre em praça pública – posso afirmar que reações a isso estão acontecendo naturalmente. Percebi que prefiro ficar trancada no meu quarto a fazer companhia a ela na sala. Que não chamo ela para ir para a praia comigo porque sei que ela vai ficar falando mal de todo mundo que está passando, ficar se metendo nas conversas (se meter é desviar o foco do assunto para si e não simplesmente participar da conversa) e dando uma de moderninha o tempo todo. Isso me irrita profundamente. Ela quer ser “legal demais”, brincalhona demais, mas passa do ponto, chegando a ser inconveniente. Claro que ninguém fala isso porque, acima de tudo, as pessoas a respeitam pela idade e história de vida, porque é minha mãe, mas dá pra ver no rosto dos outros o espanto que certas atitudes e palavras causam.

Não queria sentir isso, mas às vezes tenho vergonha dela. E sei que falar isso pra ela como eu fiz agora a pouco magoa. Mas todas as vezes que ela passou do ponto comigo, fazendo-me ficar constrangida na frente das outras pessoas, não lembrou sequer que isso poderia acontecer ou que estaria me magoando. E quando eu falei que ela fez vergonha, ainda veio com chantagem emocional barata, dizendo que “um dia eu ia sentir falta de quem me fez passar vergonha”.

Eu com certeza vou sentir muita falta, não tenho dúvidas, porque tirando essa questão do constrangimento que ela me fez passar ao longo da vida, ela é uma mãe praticamente perfeita, afetuosa, prestativa, um anjo de candura mesmo. Mas isso me machuca demais. Sempre machucou. E agora eu consigo falar a respeito, apontar o que eu não gosto e o que me afasta dela.

ATUALIZAÇÃO - Hoje pela manha, depois de dois dias de sofrimento, acordei disposta a pedir desculpas pelo erro que cometi, pela forma como falei, mas não do que falei. Vamos ver se terei direito a essa bênção.

Um comentário:

  1. No meu caso eu uso uma estratégia um pouco covarde para comentar com pessoas sensíveis como a minha mãe sobre algo do tipo. O que faço é usar uma outra pessoa (real ou fictícia) como exemplo e falando como eu me sentiria se fosse filho da tal pessoa. Como estamos sempre conversando sobre diversos assuntos aqui em casa eu consigo meio que evitar o problema falando antes que aconteça, mas no seu caso já havia acontecido o que complica mais pois a indireta seria muito clara.

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