quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desejo realizado (ou melhor, presente de Natal)

Naquele dia acordei sem cansaço. Aquele torpor que de tão comum já fazia parte do meu dia a dia parecia que nunca havia existido. Levantei, desci para tomar o café da manhã. Pão, queijo, café com leite, comentário sobre alguma matéria exibida no telejornal com a minha mãe. Depois deitei no sofá para descansar cinco minutos antes de tomar banho. E a visão daquele sonho veio completa, de uma só vez, à tona.

Ao descrevê-lo para mainha, não contive a emoção. Lágrimas, muitas lágrimas. A sensação era de alegria, de conquista. Ria sem saber como parar.

A imagem da frente da minha casa era nítida. De dentro para fora o que se via era uma área grande, um pequeno jardim à direita. Muro baixo, portão na mesma altura. Ele me entregara algo como uma bolsa, alguns papéis, peças, desses detalhes não me lembro. O cabelo branco, o bigode bem cortado, barba feita, roupa branca, óculos. A força impressionante da sua presença me tomava a atenção. Ao chegar, dirigiu-se a mim: – Comprei seu carro. Chega em tantos dias.

Lembro da minha voz dizendo para alguém – que acho que era meu irmão –, ao passar por mim correndo, só que bem mais jovem, talvez ainda criança: – Painho comprou meu carro!

Ao entrarmos em casa, ele sentou-se à mesa. Provavelmente aquela mesma mesa redonda de antes, pés de madeira escura, tampo de mármore branco. Começou a falar sobre o motivo de ter escolhido aquele modelo de carro para mim, das suas vantagens, da potência do motor, da economia de combustível. Eu não prestava atenção em nada. Ao fitava o seu rosto, sem reação. A sua presença, poder ouvir mais ou menos a sua voz, tê-lo ali, na minha frente, depois de tantos anos de espera, era o mais importante.

Grudada na cadeira, pergunto-me até agora porque fiquei apenas olhando-o, de longe, do outro lado da mesa. Queria ter podido abraçá-lo e dizer o quanto o amo e o quanto ele faz falta. O quanto sua partida representou na minha vida. Sempre pedi tanto para encontrá-lo. Ele estava ali, na minha frente, bem, saudável, corado e falando comigo.

Ao contar isso a minha mãe ela chorou de alegria. Parece que agora eu parei de pedir, estava preparada para revê-lo. E ele também para fazer contato. Talvez eu finalmente entendesse o porquê da distância, de não sentir sua presença, embora alguém já o tivesse visto ao meu lado. Será que agora sua presença poderá ser uma constante em minha vida?

Eu de um lado da mesa, ele do outro. Tudo agora fazia sentido. Ainda precisamos dar alguns passos para que eu e ele possamos estar mais perto um do outro novamente.

Meu pai, que morreu quando eu tinha 13 anos, finalmente apareceu nos meus sonhos agora que completei 30. Obrigada, meu Deus, por ter realizado o maior desejo da minha vida. Obrigada por ter me concedido um dia de felicidade plena.

(08/12/2009)

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